30/12/2007

“É um velho hábito, para afastar a tristeza e regular a circulação do sangue que percorre meu corpo. Sempre que sinto na boca uma amargura e a alma como se fosse um dia de novembro úmido e chuvoso; sempre que me pego involuntariamente parado diante de empresas funerárias ou a seguir involuntariamente pela rua os enterros que encontro, e especialmente sempre que minha hipocondria adquire tal domínio sobre mim que é preciso um sólido princípio moral para impedir-me de sair, deliberadamente, para a rua e, medicamente, surrar as pessoas, significa que é sempre chegado o momento de ir para o mar o mais depressa possível.”
Herman Melville
In: Moby Dick

Geometia




Tenho trocentos livros de teoria geográfica pra ler, todos tendenciosamente marxistas. Andei investindo na carreira acadêmica. Quem sabe neste ano que se inicia, crio vergonha na cara e começo meu projeto de mestrado. Atualmente nem Moby Dick tem me atraído. Ainda não terminei de ler. Até Nietzsche olha-me de soslaio da estante, ressentido da rejeição. Também não estou com saco. Crise literária, bem sei. Quase sempre dura uns dois meses. Depois volto às boas com os brinquedinhos de viajar. Final de ano é final de mundo, também sei. Isso passa... isso passa...
"Quem me acode à cabeça e ao
coração
neste fim de ano, entre alegria e
dor?
Que sonho, que mistério, que
oração?
AMOR."
Drummond

Quero saber

¨
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

Pablo Neruda
Dedicado a JL. Nunca visto, sempre presente.

29/12/2007


Br 41 ontem

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Para garantir níveis aceitáveis (e minimamente saudáveis) de cretinice, deveria constar do Código de Posturas da cidade uma lei que limitasse o número de Mários por mesa de buteco.

Oldack Esteves

Por te querer
Crio e recrio soluções
Tudo é permitido

Salve hoje
O sonho de sempre
Versos longos
Cheios de sinestesias empoeiradas
O que fizemos da crueldade da pós-modernidade

Acabou a selvageria
Acabou minha alma

27/12/2007

\o/ 2008 \o/

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Natal é um saco, mas a virada de ano me enche de expectativa. A mim e a mais dois terços da humanidade (rsrssrsr)...

A contagem do tempo em anos é bacana por nos propiciar essa vontade de novo, essa expectativa de novidades e esse desejo de mudar algo... Recomeçar alguma coisa... Fazer outra coisa de outro jeito.

Por isso, de novo, salve a nova oportunidade de um novo ano novo. Vamos a ele com toda fúria e folia que nos são permitidas. Invistamos em tudo aquilo que possa nos inundar de novidade. Viva os ebós da virada do ano! Os feitiços e as mandingas! Salve a louca Iemanjá e todos os deuses que nos brindam com mais uma oportunidade de viver com paixão e astúcia. Viva todas as lentilhas, as roupas de baixo brancas, rosas e amarelas. Viva as paixões que estão por vir em 2008 e as de 2007 que ainda precisam de rescaldo. A benção a todos os orixás, santos e caboclos. Salve Casaldáliga, Gandhi, Zumbi, Milton Santos, Nietzsche e tantos outros que nos ajudam a seguir lutando. Salve os heróis anônimos do povo. Os que, na lida cotidiana, garantem a sua sobrevivência e a de outros. "Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu"!!!

26/12/2007

Criado mudo

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Tomo banho, ponho a roupa,
Tiro a roupa, ponho outra
Bem mais fácil de tirar
¨
Faço rima, crio clima
Se alguém chama, mando o Lima
Atender no meu lugar
¨
Abro a janela, tudo escuro
Fecho a janela todo puro
Esperando só ela chegar
¨
Vander Lee

25/12/2007

Então é Natal... 2

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Muita dor de cabeça. O quarto tava uma verdadeira zona. Amnésia alcoólica com uma ressaca moral invejável até pra um líder de uma decadente banda de rock dos anos oitenta. Maldito John Lennon! Que saco essa música! E a merda não sai da cabeça...
- Oi, Bicho!
(...)
- Feliz pra ti também!
(...)
- Tô dormindo ainda. Te ligo depois.
(...)
- Beijo.
Quero ser um cão se eu ir pra algum lugar hoje...

Drawing Hands, de M.C. Escher (1948)

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24/12/2007

Espeliotemas

Tomo Segundo
II


Uma forte dor no estômago. Fome, uma intensa fome. Preciso acordar. Há sons distantes e indefiníveis. Sensação horrível. Devo estar morto. É isso, eu morri. A morte não é pior do que a ressaca. É, realmente, algo melhor. Uma certeza: melhor morrer no dia seguinte do que passar pela ressaca. Agora Fabiano está acordando de verdade. Há um cheiro estranho. Está numa cama. Estou num hospital? Onde está meu celular? Minha mãe deve ter cortado o cabelo repicado de novo. Sempre que ela faz isso, coisas estranhas me acontecem... Enquanto nosso herói passa por tais devaneios é fim de tarde. No hospital municipal onde está o movimento é grande. Final de semana agitado.

Entra no quarto uma enfermeira. Fabiano tenta falar com ela e não consegue. Os pensamentos confusos. Deve estar voltando de um processo de sedação. A mulher, com uma estranha cara de tarada gesticula e anda pelo quarto como se fosse uma comissária de bordo de um avião que atravessa o Atlântico, com toda a pompa e circunstancia devidas. Ela percebe que Fabiano se agita: “Fique calmo rapaz. Você está bem agora. Você está acordando, o processo é lento”. Obedeça o sinal de não fumar e manter os cintos atados. Em breve começaremos o serviço de bordo, faltou acrescentar.

Não se consegue ver nada pela janela do quarto, é uma janela que dá para o lado interno do complexo hospitalar. Ele vê outras janelas. Janelas que se vêem. Alguém grita insistentemente. Parece sentir muita dor. Ainda bem que consigo suportar as minhas sem gritar. Talvez devesse gritar um pouco. E se eu não conseguir? Será que estou em coma? Melhor não tentar. Essa mulher pode me atacar com um suporte de soro. Onde está a porra do meu celular?

Climalugartempo

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Três eras glaciais num dezembro submerso em um quarto de Pretória
Quatro milênios congelados num novembro inundado em uma casa em Gaborne
Cinco séculos gelados num outubro alagado em uma rua em Lusaka
Seis décadas frias num setembro transbordante em um quarteirão em Brazzville
Sete anos em temperatura ambiente num agosto molhado em um bairro de Cartum
Oito meses mornos num julho aquoso numa cidade em N’Djamena
Nove semanas aquecidas num junho úmido em um estado em Trípolli
Dez dias quentes num maio seco em uma região em Tunis
Onze horas de alta temperatura num abril ressequido em um país em Roma
Doze minutos ferventes num março árido em um continente de Berna
Treze segundos em ebulição num fevereiro desértico em um planeta em Berlim
Quatorze centésimos explosivos num janeiro morto em uma galáxia de Copenhague.
stoN

Um pouco de Rosa

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Viver é um descuido prosseguido... No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá erro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...

23/12/2007

Cara Valente

Marcelo Camelo

Não, ele não vai mais dobrar/ Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho/ Desaprendeu a dividir
Foi escolher o mal-me-quer/ Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho/ Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar com o coração, olha lá/ Ele não é feliz
Sempre diz/ Que é do tipo cara valente
Mas, veja só/ A gente sabe
Esse humor é coisa de um rapaz/ Que sem ter proteção
Foi se esconder atrás/ Da cara de vilão
Então, não faz assim, rapaz/ Não bota esse cartaz
A gente não cai, não/ Ê! Ê!
Ele não é de nada/ Oiá!!!
Essa cara amarrada/ É só
Um jeito de viver na pior/ Ê! Ê!
Ele não é de nada/ Oiá!!!
Essa cara amarrada/ É só
Um jeito de viver nesse mundo de mágoas
Ele não é de nada

A TT, um dos mais queridos amigos. Marca funda e indelével n'alma. Alma de odete!!!!

22/12/2007




Hojeu

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O nada agora é mais vazio
É atroz e quente o medo de tudo

Du doMinas na daDivosa esperança minha
Escrever em cidades caladas é mais fácil

Perde-se tudo diante da tv
E quando não se quer nada ver
O fantástico absurdo

Res-peito tudo e nada quero aqui
Quero quase isto

Tira a mão do pensamento

Não responda
Leiacredite e tente captar
Não entenda
Sinta enquanto ouve e leia enquanto anda
Assobielendo e tente responder:

A historia cantadamente nova
Re novaMente ri?
Hojeumorrri.

20/12/2007

Uns ruídos de poeira minério e missa
Navios que naufragam ao por-do-sol

Caminhões da minha aldeia
tinham no pára-choque a sentença:

O mar geme e chora porque não banha Minas

Antônio Souza in: Flores no Pote

19/12/2007

Nunca-mais

Amanhece pra semana
de labor e gozo
da etílica e fugidia felicidade
resta a cefaléia
a secura
o desânimo

Nunca mais eu bebo

Sexta-feira
vai se chamar
nunca-mais.
stoN


18/12/2007

O amor, por Gregório de Matos

Definição do Amor

Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.
O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira
E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

17/12/2007

AO PÉ DO OUVIDO


Ouvir pássaros
Ouvir as passadas amigas
E amar como a raposa que espera o príncipe

Sonhos entram pelos ouvidos/ Na voz doce de Marisa
Na fúria que vem da cova rasa

Quero sempre mais/ Primavera de propaganda
E guitarras distorcidas/ De cabeludos suicidas

Ouvir sussurros na madrugada
Respiração no silêncio/ As batidas do seu coração

Ouvir sua voz e cantar/ Cantar com você
Ouvir você cantar/ Cantar você
E aí?/ Topa?
stoN

Ao Nosdyalg

¨
E era andar por virtuosas plagas quando o sonho se desfez em cascatas de medo, suor e ofegância. Passei por andanças de milhões de cores e sabores e me deparei com tudo que minha alma fez de mim. E como voltar nos passos? Quem me ensina a ler mapas de tão nefasto domínio?

16/12/2007

Ensaio sobre Saramago

No passeio
Da Bela Vista
A bengala
É a perna
De enxergar

stoN

Espeliotemas

Tomo Segundo
I


Demorou uma eternidade a passagem do coletivo. Fabiano era um poço de ansiedade, ainda mais quando se tratava de algo que tanto instigava sua curiosidade. Quando, finalmente, iria continuar a travessia da rua, vê Pedro caminhando em direção a um discreto café no lado oposto. Decidiu ir falar com ele. Uma sensação absurda: como em “Clube da Luta”, Pedro era ele mesmo. Indubitavelmente estava enlouquecendo, pensou. Todos os acontecimentos comprovam isso. A vida tacanha, o emprego medíocre na farmácia, o curso que de chato caminhava pro insuportável. E essa assombração? O que esse cara está querendo? Será que ele me segue mesmo ou é mais uma loucura minha? Preciso parar de tomar esses remedinhos...

No café Pedro o recebeu com o mesmo sorriso enigmático. A própria esfinge do terceiro milênio tomando um descafeinado com creme. Cumprimentos descompromissados. Fabiano foi tomado de uma vergonha enorme. Está realmente enlouquecendo. Pedro foi tão cortês quanto qualquer outra pessoa que há muito não se via. Conversaram frugalidades e, obviamente, Fabiano não teve coragem de dizer ao interlocutor que tinha certeza absoluta que ele o vinha seguindo nas últimas semanas.

Foram uns trinta minutos de um agradável papo. Já de volta em casa, Fabiano está arrumando um pouco as coisas. Há muitos livros espalhados, copos sujos e uma carta de sua mãe no tapete. O moço se pergunta se não seria melhor buscar tratamento. Essa confusão em sua cabeça está ficando séria. E se ele começasse a ouvir vozes? E, pior, se ele passar a fazer o que elas mandarem?

Reunião de planejamento

Nas melhores lojas do ramo 03

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15/12/2007

"Mas o quase tudo, quase sempre é quase nada...

E nada nos proteje de uma vida sem sentido..."

Foto de Janaína Andrade, feita no interior de Sergipe e gentilmente cedida por Beth

Mulher nua pro Gatomário

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Pra quem perguntou se não teria mulher pelada no blog, aí vão 700

Bocaiúva em festa

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Amigo que deixou de ir ao Cirque du Soleil pra ir ao Bocaiúva ontem não perdeu nada. Teve porrada no bar em frente, policiais motoqueiros abordando motoristas bêbados aos tiros, mulheres rebolativas e estranhamente exibicionistas, garçon novato, bolinho de carne... Só faltou Tony Rei e elefantes se equilibrando em bolas coloridas. E teve quem fosse atrás da rebolativa quarentona embaixo de torrencial chuva. Isso tá virando um blog de fofoca...

14/12/2007

Um amigo de Fortaleza me pergunta: Como vamos?
Vamos e estamos feito loucos, alucinados e crianças.
Fim de ano parece fim de mundo.
E quem me dera fosse. Espero que ele acabe em melado, pra eu morrer bem doce!!!

13/12/2007

Poesiar

É o meu jeito de escapar do mundo
sem risco de ressaca ou overdose
pois também é o meu jeito de
adentrar no mundo como parto que não sente dor
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É um ato de sobrevivência
em tempos de rancores traições
pois também é o expurgo do meu ódio
como rito de purificação
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É assim como me expor sem ninguém ver
por mais que exerça minha vaidade
pois o exposto é antes o não visto
O segredo mais oculto que
nem mesmo eu descubro.
¨
Celi Márcio Santos
O senhor mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior é o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.
Guimarães Rosa

Um pouco de Pedro Casaldáliga

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"Sou fiel por fatalidade"

então é Natal...

Chuva convectiva nos espera no fim de uma tarde tão quente e abafada. É verão em tropicais terras. Com amarfanhados semblantes, seguem os que se dizem dignos de arrastar suas carcaças por ruas, becos e vielas da metrópole decadente. Final de ano sempre me deprime. Cansaço... Luzinhas coloridas...
Morte ao Papai Noel!!!

11/12/2007

Espeliotemas

Tomo Primeiro
III

12:16. Puta que pariu! É sempre a primeira coisa que vem à mente de Fabiano nas ressaqueadas manhãs. A presa saiu cedo. Deixou um bilhete cretino e não levou a prataria da casa. Menos mal. Pior do que a ressaca seria ter que parecer simpático ou, pior ainda, interessado em levar o flerte a um relacionamento maduro e duradouro. Nada na geladeira além de duas peras e uma fatia de pizza. Tomou bastante água e voltou pra cama. Vômito. Nunca mais eu bebo. Puta que pariu! Vômito. Depois das quatro da tarde e de ter dormido um pouco mais, começou a voltar à forma/condição humana. Toca o telefone. Alguém perguntando por Edilene. Nunca ouvira tal nome.

Às seis da tarde saiu pra almoçar. Sanduíche na esquina. Muita Coca Cola pra hidratar. Era comum Fabiano ter a sensação de que era seguido. Sempre achou que era uma neurose absurda, sobretudo quando imaginava que o perseguidor era Kafka. Poderia ser pior, consolava-se. Poderia ser Barbra Streisand montada numa zebra, usando sombreiro e enormes óculos escuros espelhados.

Voltando da lanchonete, Fabiano resolve dar uma volta e, depois de uns quarteirões, assusta-se com Pedro, parado na esquina e com aquele mesmo olhar (acolhedor e cúmplice) de sempre. Será que ele estava seguindo-o? Foi em direção ao rapaz. Ouve-se ao longe a sirene de uma ambulância na tarde que se desmantela em noite quente. Decidido, Fabiano caminha em direção a Pedro que lhe abre um sorriso. O balconista é obrigado a interromper o passo antes de atravessar o asfalto para que um ônibus passe.

Um pouco de Dostoiévski

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"Se a civilização não tornou o homem mais sangüinário, tornou-o sem dúvida mais sordidamente, mais covardemente sangüinário"

"Eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade que não tá na saudade e constrói a manhã desejada"

10/12/2007


Amigo meu disse que essa coisa de blog vicia. Nunca levo a sério o que as pessoas me dizem. Sobretudo quando sei que elas tem razão.

Para um amor no Recife

Paulinho da Viola

A razão porque mando um sorriso/ E não corro/ É que andei levando a vida/ Quase morto/ Quero fechar a ferida/ Quero estancar o sangue/ E sepultar bem longe/ O que restou da camisa/ Colorida que cobria minha dor/ Meu amor eu não esqueço/ Não se esqueça por favor/ Que eu voltarei depressa/ Tão logo a noite acabe/ Tão logo esse tempo passe/ Para beijar você

Os outros

Leoni

Já conheci muita gente/ Gostei de alguns garotos/ Mas depois de você/ Os outros são os outros/ Ninguém pode acreditar/ Na gente separado/ Eu tenho mil amigos mas você foi/ O meu melhor namorado

Procuro evitar comparações/ Entre flores e declarações/ Eu tento te esquecer/ A minha vida continua/ Mas é certo que eu seria sempre sua/ Quem pode me entender/ Depois de você, os outros são os outros e só

São tantas noites em restaurantes/ Amores sem ciúmes/ Eu sei bem mais do que antes/ Sobre mãos, bocas e perfumes/ Eu não consigo achar normal/ Meninas do seu lado/ Eu sei que não merecem mais que um cinema/ Com meu melhor namorado

A importância da memória para as lutas coletivas

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“Porque es bien sabido que las puertas fueron antes ventanas, y antes fueron rendijas, y antes fueron y son memoria. Tal vez por eso temen los de arriba, porque quien tiene memoria en realidad tiene en su futuro una puerta.”

Subcomandante Marcos
Exército Zapatista de Libertação Nacional

08/12/2007

Espeliotemas

Tomo Primeiro
II


Chegando ao Gárgula não encontrou Alencar. Sabia que o telefonema do amigo não era pra ser levado a sério. O patife sempre furava. Sentou-se pediu uma água tônica com gim e começou a se distrair imaginando como seria a vida de quem passava pela porta da espelunca.

Fabiano é um rapaz de uma beleza obtusa. Nele nada é óbvio ou necessariamente feio ou bonito. Se fosse feito por um arquiteto, seria uma dessas casas que estranhamente são bonitas, embora nada pareça combinar. Estudar numa universidade pública e morar só numa cidade grande foi a sua maior conquista até então. Consegue isso graças à grana que os pais mandam mensalmente. O salário da drogaria não garantiria tal feito. Quando veio pra metrópole, dividiu o aluguel com Afonso, o que ajudou a se estabilizar. Quando o amigo saiu, preferiu ficar só. O preço da liberdade é ter menos grana pra gandaia.

Já passava das onze da noite quando, indo ao banheiro, Fabiano cruzou o olhar com um cara que cismou conhecer de algum lugar. A reciprocidade pareceu real pela forma como o rapaz, magro, alto e de ossos proeminentes o encarou. Sempre pensou que deve ter uma portaria da vigilância sanitária que proíbe a reposição do papel toalha em banheiros de bar. Impressionante como os estabelecimentos a cumprem criteriosamente. Foi quando a memória funcionou e o susto foi grande. Era Pedro, sem a menor dúvida. Apressado saiu do banheiro e o moço já não estava. Foi ao cara do balcão e perguntou. Tinha ido embora. Quis especular, mas não teve coragem. Pedro o reconhecera e não quis falar com ele. O cara tinha desviado do encontro depois de tanto tempo.

Encontrou um monte de gente, papeou despretensiosamente. O pensamento em Pedro. Estudou como um moço em um curso de inglês por um curto período. Os dois se falaram pouco, mas sempre se encontravam, tinham o mesmo duvidoso gosto por pardieiros. O que será que o cara está fazendo da vida? Sempre que ele e Pedro estavam no mesmo bar, Fabiano tinha uma reconfortante sensação de segurança. Nunca entendera aquilo. Parecia haver certo reconhecimento mútuo, um pacto velado entre os dois. Mal se falavam, mas se reconheciam. Uma amizade muda.

Num beijo discreto no pescoço e com um cochicho risonho, Fabiano convence a presa a ir ao seu apartamento. Hora do abate.

Perfil

Eu minto. Choro vendo propaganda de margarina. Adoro os parágrafos intermináveis de Saramago e os que terminam com reticências, mesmo não sendo dele... Sou adepto de cochilos depois do almoço em dias de folga. Não sou adepto de cochilos em ônibus, mas eles me perseguem. Os cochilos, os ônibus insistem em não parar pra mim. Durmo cedo, acordo cedo. Canto fazendo performances quando ninguém vê. Já usei drogas mais pesadas do que o álcool e mais leves também. Já viajei de trem. Já viajei de avião. Já viajei. Nunca vou ver no cinema, nem alugo animações, mas sempre que as vejo, acho-as ótimas. Ás vezes digo “por nada” sem que a outra pessoa tenha dito obrigado(a). Adoro ser chamado de “fessô”. Adoro beber em “copos sujos”. Adoro beber com amigos. Adoro beber com amigos em “copos sujos”. Adoro meus amigos. Tenho angústia em livrarias, sebos e bibliotecas: nunca vou ler o quanto quero. Não compro nada nem faço transações e/ou consultas bancárias pela internet. Já quis comprar um carro bacana. Evito repassar e-mails, só os muito engraçados ou importantes. Adoro iogurte natural com mel, cenoura e laranja. Eu amo a Geografia. Fico muito estressado quando entro em bancos. Acredito nos movimentos sociais. Já pensei em ser ator. Gosto de Lila Downs e Femi Kuti. Milton Santos é meu verdadeiro pai. Eu minto.

Literidades

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Cartaz de doido

É pra te ver melhor

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Não acho meus óculos. Em cerca de oito anos usando, é a primeira vez que os perco. Ontem as pessoas pareciam loucas. Bolinho de Carne com Vale Verde depois de mais de treze horas de trabalho não podem mesmo dar certo. Devo ter deixado no Bolão. Aqueles garçons com umas caras estranhas... Será que eles devolveriam os meus vidros de por nos olhos pra melhor enxergar? “Hoje só acredito no pulsar das minhas veias...”

06/12/2007

Espeliotemas

Tomo Primeiro
I

Fabiano conferiu pela última vez se tinha trancado todas as portas e janelas. Não poderia perder o metrô das 07:20 se queria chegar a tempo no trabalho. O melhor de morar sozinho é que tudo que você deixou de manhã está no mesmo lugar quando volta. O pior também. Ganhou a rua e passou rapidamente pelo segurança da estação. Seu apartamento não ficava longe dela. O dia morno e iluminado o fez pensar que poderia fazer um monte de coisas boas para aproveitá-lo em vez de dedicar quase dez horas ao enfadonho trabalho de atender no balcão de uma farmácia. O alento do moço era ser sexta-feira e estar de férias na faculdade. Sexta é o dia da tradicional saída com possibilidade de esticar em algum lugar com música legal. Importava pouco o fato dele acordar no sábado, perto do meio dia, como se tivesse passado a noite no intestino de um camelo. Fabiano já chegava perto do profissionalismo no uso de substâncias que alteram o estado de consciência. Fato é, que já não eram poucas as vezes em que prestava consultoria aos amigos sobre os melhores fornecedores, a dosagem ideal e os efeitos colaterais.

09:15. Aspirina; tarja preta; curativo; absorvente; troca de escova de dentes; acabou a ração pra filhotes; telefonema pra fornecedor. 10:45. Dor nas costas; quero com abas; aas adulto; Fluoxetina; Dramim, cartão telefônico; desodorante creme sem cheiro. 12:00. Dois pasteis de camarão e um refresco de pêssego; cigarro de palha picado; chiclete de caixinha. 13:05. Esporro pelo atraso; mais remédios, mais tarjas, sem abas, genéricos e afins... Fabiano só pensa em chegar à liberdade vespertina e no e-mail que recebeu de Afonso. O cara é seu amigo de infância e tem três meses que vive na Espanha. Poucos telefonemas e a internete mantêm os dois em contato. Sempre Afonso estimula nosso herói a largar tudo e partir para o Velho Continente. Fabiano, já faz tempo, vem considerando a idéia. Ainda mais sendo “tudo” tão pouco. O que o deixa em dúvida é abandonar o curso de administração no quinto período. Outra verdade é que ele não é de se arriscar muito. O rapaz sempre foi comedido quando se trata de atitudes que alteram significativamente o rumo das coisas. Sua amiga Bete diz que isso tem relação com o signo.

Finalmente termina o dia e Fabiano passa em casa para tomar um banho antes de ir para o Gárgula. Bar de música questionável, comida suspeita, mas com preços baixos e com presenças interessantes todas as noites. Estava de novo no metrô, rumo ao bar, quando recebe o telefonema de Alencar, amigo que ele não vê desde muito.

Mão amiga

Friday I'm in love

I don't care if Monday's blue/ Tuesday's grey and Wednesday too
Thursday I don't care about youit's/ Friday I'm in love
Monday you can fall apart/ Tuesday Wednesday break my heart
Thursday doesn't even startit's/ Friday I'm in love
Saturday waitand/ Sunday always comes too latebut/ Friday never hesitateI don't care if Monday's black/ Tuesday Wednesday heart attack/ Thursday never looking backit's
Friday I'm in love/ Monday you can hold your head/ Tuesday Wednesday stay in bed
Oh Thursday watch the walls insteadit's/ Friday I'm in love Saturday waitand
Sunday always comes too late/ But Friday never hesitate...
Dressed up to the eyes/ It's a wonderful surprise/ To see your shoes and your spirits rise
Throwing out your frown/ And just smiling at the sound / And as sleek as a shriek
Spinning round and round/ Always take a big bite / It's such a gorgeous sight
To see you in the middle of the night/ You can never get enough/ Enough of this stuff
It's Friday/ I'm in love


The cure

02/12/2007

Cegos vendo estátuas na Praça da Liberdade

Creio que nunca passará pela cabeça do sorrateiro ladrão que me levou as ferramentas (todas que eu possuía) que sua safadeza me assolapou muito mais moralmente do que tudo. O imbecil não imagina que a meia dúzia de chaves de fenda e os três alicates só reforçavam minhas preguiça e incompetência em atividades de reparos domésticos. Loucura minha perder tempo com considerações sobre as avaliações morais e filosóficas dos gatunos...
E quando penso na merda que é o meu vizinho que houve funk ou “Calcinha Preta” em alto volume todo domingo à tarde, no metrô lotado e na falta de transporte coletivo decente na cidade, no referendo na Venezuela.... É muita coisa na vida para ainda ter suas míseras ferramentas furtivamente surrupiadas. E olha que nem falei do mestrado, da falta de grana e da crise existencial. Quero poupá-l@s um pouco.
Ontem fui levado a uma festa nefasta. Não há termo melhor para qualificar aquilo. Ne-festa! Nunca vi gente tão louca num inferninho tão decadente e podre. Se pelo menos a vódica fosse boa, teria me sobrado a ressaca meramente moral. E nem tive tempo de me despedir da figura que me passou o olhar mais pervertido do mundo. Naquele tumulto... Verdadeira rota de fuga! Pior do que ter lapsos de memória é não ter pegado o telefone. Será que foi realmente tão bom?
Furto, festa, ressaca, funk, a crise da esquerda na América Latina... Maldito domingo!

01/12/2007

United Pumpkins of America



Um pouco de Nietzsche





Assim me disse um dia o diabo: “Deus também tem o seu inferno: é o seu amor pelos homens”. E ultimamente ouvi-lhe dizer estas palavras: “Deus morreu; foi sua piedade pelos homens que o matou”.

Nas melhores lojas do ramo 01


A vida dos sem-dono

Sou um cachorro solitário, mas sou feliz!...
Outro dia conheci uma cadela que era muito...
safada!
Mas no fim...
O esforço da cantada foi pra nada!...

Walisson
Retirado do Boletim "Sempre-Viva" Nº 20 do Instituto Milho Verde

Garagem


Igreja do Rosário - Milho Verde

Pescaria com Pablo


Neruda assegredou-me:
"Se todo dia cai dentro de toda noite, há um buraco onde existe muita luz contida. Há que se sentar à beira deste buraco e pescar muita luz, com paciência"
Paciência tenho tido. Tenho medo é da vertigem: e se me despenco nesse buraco de luz? Na verdade, o que me falta é disposição para insólita pescaria. E eu nem sei nadar...

O amor por Arnaldo Antunes

“O amor, sem palavras. Ou. A palavra amor, sem amor. Sendo amor, ou. A palavra ou. Sem substituir nem ser substituída por. Si, a palavra si, sem ser de si gnada ou gnificada por. O amor. Entre si e o que se. Chama amor, como se. Amasse (esse pedaço de papel escrito amor). Somasse o amor ao nome amor, onde ecoa. O mar, onde some o mar onde soa. A palavra amor, sem palavras.”