25/02/2010

Madrugada quente
A chuva me tirou o sono
A recordação do seu olhar triste
Levou-me a calma.
stoN

23/02/2010


22/02/2010

“Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! Tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse ‘para onde estamos indo?’ – não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: ‘estamos indo sempre para casa’”.

Raudan Nassar in: Lavoura Arcaica

21/02/2010

Maduras dicotomias

Decidi assumir por tempo indeterminado os fios brancos de minha barba. Durará pelo menos o quanto eu manter a barba na cara. O que não significa, em hipótese alguma, que eu esteja aceitando de bom grado o fardo que os anos estão me impondo à cara (e às costas). Por outro lado, se amanhã resolvo novamente simular um rosto imberbe com ajuda de aparelho elétrico e lâmina não quer dizer que nego o que o tempo e a maturidade tem me trazido (de bom e de ruim). Envelhecer é até interessante, ruim são os sintomas.
stoN

19/02/2010

Estou fazendo pequena obra em casa, como todas, trabalhosa e dispendiosa. São milhares de detalhes completamente estranhos ao meu parco e tosco universo de conhecimento: buchas, redutores, válvulas, registros e argamassas. E no meio dessa suja confusão deparo-me com uma filosófica e fundamental questão: Areia se mede em m³, como diabos isso é feito?
stoN

17/02/2010

Ressaca de carnaval com mais quatro dias de folga e muita coisa pra fazer e pensar. Nem tudo acaba em cinzas, infelizmente.
Stonto

11/02/2010

Maria José me cumprimentou com o mesmo aperto de mão de sempre: másculo, decidido e muito firme. Tão forte que chega a contrastar com a suavidade de seu sorriso, com a fartura de curvas de seu corpo e com o seu lindo e jovial rosto. Quando desci as escadas do prédio pensei comigo: A beleza é de Maria, o cumprimento é de José.
stoN

10/02/2010

"Pensou na morte; na morte, sob a forma duma vida nova, que crescia em seu ventre, como um embrião num útero. A única coisa fresca e ativa no seu velho corpo, a única coisa viva, duma maneira exuberante e crescente, era a morte. "

Aldous Huxley in: Contraponto

09/02/2010

É sempre preciso que você fique mais um pouco, tome mais um gole, ceda um pouco mais, fale mais baixo, rubrique esta última folha, compre mais um seguro, morra um pouco mais...
stoN

07/02/2010

Oopa!

Ana é um nome que, desde muito, me persegue. Sempre penso em como deve ser bom ter um nome assim, um breve palíndromo que gaste menos de quatro letras. Deve ser bom se chamar Oto. Melhor ainda é o casal Ana e Oto. Fundarei uma ONG: Organização dos Obcecados por Palíndromos Anônimos.
stoN

06/02/2010

Mais do mesmo

Vieira acordou cedo e nem deu tempo de passar na padaria para tomar o cafezinho habitual. Hoje não terá a lembrança do sorriso discreto de Neuza para lhe distrair durante o dia. A vida deve ser assim mesmo: nem sempre é como a gente quer. Fumou o último cigarro do maço assim que bateu o cartão. Quando ligou a máquina na tornearia, lembrou-se que, na correria, havia deixado o rádio ligado. A conta de energia só faz subir e ele ainda dá uma dessa? Essa preocupação substitui a lembrança do sorriso da mulata o dia todo. Nem tudo é como a gente quer mesmo.
stoN

04/02/2010

The eat is on the work's table


Intransigência marginal

Não me atende
Quer que eu o entenda
Foi autuado
Flagrante delito.
To Gatomário

03/02/2010

“Um dia irmão, comemoraremos a vitória tão esperada. Os que jogaram, os que só torceram na arquibancada. E bêbados de nós mesmos, a mesa coberta com os destroços do combate. Difícil dizer o que é sangue, e o que é molho de tomate. Brindaremos as cadeiras vazias dos que lá não estão. Os fantasmas de uma geração. Um que morreu no exílio e foi devorado por vermes estrangeiros. Um que enlouqueceu um pouco, e tem delírios passageiros. Um que ia mudar o mundo e se mudou. Um que era o melhor de nós e vacilou. Nossa Rosa Luxemburgo que abriu uma botique. Nosso quase Che Guevara, que hoje vive de trambique. Estaremos, você e eu, irmão, e os balões circundarão nossas cabeças, como velhos remorsos. E os garçons olharão para nós, e desejarão a nossa morte. Danem-se as nossas trapalhadas, estivemos nas barricadas. Não temos placas na rua, como heróis da resistência, mas, temos consciência de que os bárbaros não passaram..

Então você dirá:

- Como heróis ? Como não passaram, meu querido não te falaram? Os bárbaros ganharam.”


Luiz Fernando Veríssimo. In: Comédia da vida privada

02/02/2010

De volta

Andei sumido e confuso. Com medo. Sem rumo e sem norte. Amarguei umas poucas e boas, mas já está mais do que provado que: a) Carne de homem não dá pastel: tem que ralar; b) O que não mata fortalece; e C) Só é possível filosofar em alemão. Sendo assim, meus iguais, estou disposto a retomar o PNMP com força, vontade, virulência e, quem sabe, um tiquinho de poesia.
Insurgentes beijos!!!!

Pra Você Guardei o Amor

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir
Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar
Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar
Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar.
'
Nando Reis