Hoje tive muitas saudades de amores, cheiros e sabores. “Sei que há léguas a nos separar/ Tanto mar, tanto mar/ Sei, também, quanto é preciso, pá/ Navegar, navegar/ Canta primavera, pá/ Cá estou carente/ Manda novamente/ Algum cheirinho de alecrim”*. Sinto tanta falta do arroz com pequi, colhido por mim mesmo, no cerrado de São José do Buriti. Sinto falta do cheiro de mato queimado. O cupuaçu e a graviola de Xinguara, com suas empoeiradas ruas. O cheiro da feira de domingo e da Feirinha da Lua. Os cajus e as cajuinas de Fortaleza. Falta-me as tapiocas de Sobral. É tanta gente amada que está longe. Parte de mim sente falta de amados em Presidente Prudente, em Guaxupé, em Londres, em Montes Claros. Minha saudade se perde nas veredas de Redenção, de Mogi Mirim, de Teresópolis, de São Félix do Araguaia, na desbundância de Rio e de São Paulo. As pessoas amadas nem são tantas assim, mas o correr da vida as leva, as deixa ou a coloca onde nem minha vista nem minha voz alcançam. Só minha saudade.
*[Chico Buarque. Tanto Mar]
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