19/09/2010


Ver mais uma vez “Cinema Paradiso” trouxe-me muita emoção, como todas as outras vezes que o vi. É uma película duma doçura tão intensa que sempre me leva às lágrimas. A vida, ainda que triste, deveria ser tão poética quanto as venturas e desventuras de Totó. Tomara que os deuses nos concedam, mesmo que por um dia apenas, toda doçura que só o cinema italiano é capaz de proporcionar.
stoN

No fundo do baú 5


17/09/2010

Por engano IV

Eziel, numa ansiosa exasperação, repleta de curiosidade e medo resolve seguir a moça. Como não se apaixonar pela delgada, delicada e diáfana figura de Sofia? Por certo, tratava-se da mulher de sua vida. Não lhe restava a menor das dúvidas. Entrou no coletivo logo atrás dela e assim que o mesmo tomou os rumos do Bonocô notou o quanto o leve desgrenhar dos cabelos tornava sua feição mais jovem e angelical ainda. Parecia uma criança que volta pra casa depois de uma peraltice no quintal, cheia de vivacidade e com um cansaço leve, que justifica uma tarde ensolarada em qualquer lugar bucólico do planeta. Eziel divagava em desejos enquanto o ônibus percorria a ruas soteropolitanas e, com um semblante que poderia ser de preocupação, Sofia distraidamente olhava para fora da janela. Esse ar distante agradava a Eziel. Ele decidiu que falaria com a menina hoje. Definitivamente, assim que ela chegasse ao ponto de destino, ele a abordaria. Continuou a observá-la.
stoN

13/09/2010

Na pena de vida
Com afinco se busca
A morte
Que a dor finda.
stoN

11/09/2010

Tanto amar

Hoje tive muitas saudades de amores, cheiros e sabores. “Sei que há léguas a nos separar/ Tanto mar, tanto mar/ Sei, também, quanto é preciso, pá/ Navegar, navegar/ Canta primavera, pá/ Cá estou carente/ Manda novamente/ Algum cheirinho de alecrim”*. Sinto tanta falta do arroz com pequi, colhido por mim mesmo, no cerrado de São José do Buriti. Sinto falta do cheiro de mato queimado. O cupuaçu e a graviola de Xinguara, com suas empoeiradas ruas. O cheiro da feira de domingo e da Feirinha da Lua. Os cajus e as cajuinas de Fortaleza. Falta-me as tapiocas de Sobral. É tanta gente amada que está longe. Parte de mim sente falta de amados em Presidente Prudente, em Guaxupé, em Londres, em Montes Claros. Minha saudade se perde nas veredas de Redenção, de Mogi Mirim, de Teresópolis, de São Félix do Araguaia, na desbundância de Rio e de São Paulo. As pessoas amadas nem são tantas assim, mas o correr da vida as leva, as deixa ou a coloca onde nem minha vista nem minha voz alcançam. Só minha saudade.
*[Chico Buarque. Tanto Mar]
stoN

02/09/2010

Por engano III

Quando Eziel pegou o ônibus no ponto em frente a sua casa faltavam quinze minutos para as treze horas. Estava com medo de chegar atrasado para o teste que fora chamado. A atendente da agência disse que os quatro candidatos selecionados tinham que estar lá às 14:00. Tomara que não haja congestionamento, pensou. Não teve sorte, acabou perdendo a hora. Quando lá chegou já haviam selecionado o futuro vendedor de ração no comercial que seria veiculado em horário nobre. Bastante enraivecido, Eziel decide ir à biblioteca entregar o livro do Tchekhov que havia estudado durante a semana. Ao cruzar a praça, já voltando para casa, levou o maior susto: Sofia estava parada no ponto de ônibus. Estava tão linda como sempre esteve, perdida em pensamentos ou apenas observando se o ônibus dobraria a esquina.
stoN

30/08/2010

Vão de amar

"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar"

Com muita emoção recebi hoje telefonema de doce amigo com quem há tempos não falava. Fiquei feliz pelos deliciosos minutos de partilha da vida, de sonhos e de perrengues. Há tanta verdade em Guimarães Rosa quando fala dos encontros e desencontros das veredas da vida. E é tão bom, e absolutamente fundamentais, esses momentos de sintonia nesse processo de busca eterna. A amizade é nosso único e verdadeiro legado.
stoN

No fundo do baú


29/08/2010

Por engano II

A noite quente de Salvador expulsou Eziel de casa, a despeito do cansaço enorme que sentia. A tarde fotografando para o comercial da Sapataria Popular Baiana tinha sido um saco. Desde que abandonou o emprego e o curso de administração para se dedicar a carreira de ator, ele não pode recusar nenhum trabalho, e eles tem sido raros. Quando deu por si, já estava a caminho da casa de Sofia. Tinha esperança de vê-la chegando da faculdade ou da igreja. Enquanto andava, imaginava se uma fiel tão ardorosa não se sentiria ofendida com qualquer galanteio vindo de um ator de meia tigela como ele. Ainda mais se ela tivesse visto aquele escorregão que ele levou em frente ao trabalho dela. Ainda faltavam uns três quarteirões para chegar à casa de Sofia quando Eziel resolveu voltar pra casa. Melhor tomar uma sopa e dormir cedo.
stoN

27/08/2010

Nots

Acordei meio do avesso, com vontade de ouvir estática em vez de música, ir trabalhar e não passear; almoçar salada de rúcula e brócolis e não comer empada de camarão com coca cola. Tô preferindo ir ao banco a ficar de papo pro ar em casa. Se bobear, hoje prefiro ir a São Paulo, na Baixada do Glicério a ir pro Dragão do Mar em Fortaleza.

stoN

26/08/2010


22/08/2010

Crença

Acredito no vermelho e
Tenho fé
Nos seus dedos dos pés
Cheios de anéis.
stoN

20/08/2010

Para um amor no Nordeste

Um pouco de ressaca, numa manhã de sexta, dignifica a semana. Sobretudo depois de uma noite com muita música boa e amor pra mais de mar da Praia de Iracema.
Tanto mar, tanto amar...
stoN

16/08/2010

Inacabado

As coisas qu’eu escrevi parecem toscas
As que eu li, desonestas
À sombra da goiabeira
Dormem o passado e o sabiá.
stoN

15/08/2010

céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu SOL céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu céu
mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar mar

14/08/2010

"Eu abaixava os olhos, para não reter horizontes, que trancados não alteravam, circunstavam. "


João Guimarães Rosa

13/08/2010

Livro de receitas


Quando chegou ao saguão do aeroporto a cabeça já havia parado de doer. Nunca havia sentido uma dor tão aguda e o fato de estar em pleno vôo o incomodou demais. Por certo foi algo que comeu no aeroporto. Peixe morre pela boca, diziam. Ainda bem que peixe não voa. Passou em uma livraria e comprou um livro de receitas para Anna. A noiva adora cozinhar e a foto na capa pareceu tão apetitosa quanto o título insinuava: “Delícias de Minas”. Ao subir o último lance de escada no prédio onde moravam, Aloisio se deu conta de que, pela primeira vez em quatro anos, a vizinha não estava ouvindo música de forma ensurdecedora. Deveria ser um bom presságio. Quando entrou em casa Anna não estava. Havia levado todas as coisas e deixado um bilhete: “Você, como sempre, demorou demais a voltar”. Ele nunca mais quis comer frango com quiabo.

stoN

21/07/2010

Semana de combate à homofobia em BH

“Temos o direito de sermos iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem; Temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize.”

Boaventura de Sousa Santos

25/06/2010

No dia do Menino Deus

Hoje é aniversário de meu grande irmigo.
Saudade é mato, lembranças de tempos ricos de risos, cachaças, trabalho, estudo, butecos, famílias, viagens, cachaças, favelas, bota do alemão, rangos memoráveis no chinês, cachaças...
É seu dia, que tudo de bom, honesto e justo aconteça a ti e às lindas que te cercam.
Beijão!!!


Menino Deus

Caetano Veloso

Menino Deus, um corpo azul-dourado
Um porto alegre é bem mais que um seguro
Na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus, quando tua luz se acenda
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia
A eletricidade ligada no dia
Em que brilharias por sobre a cidade
Menino Deus, quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
E então, por um lapso, se encontrar no anexo
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos de terna alegria no dia
Do menino Deus
No dia do menino Deus

13/06/2010


03/06/2010

E depois de uma tarde de quem sou eu
E de acordar a uma hora da madrugada em desespero...
Eis que as três horas da madrugada eu me acordei
E me encontrei
Simplesmente isso:
Eu me encontrei calma, alegre
Plenitude sem fulminação
Simplesmente isso
Eu sou eu
E você é você
É lindo, é vasto
Vai durar
Eu sei mais ou menos
O que vou fazer em seguida
Mas por enquanto
Olha pra mim e me ama
Não
Tu olhas pra ti e te amas
É o que está certo.
Clarice Lispector

01/06/2010

Em pé

Os pés das pessoas sempre me chamam a atenção, mais do que eles, os calçados são o que realmente reparo. Muito do que é uma pessoa, bastante coisa da personalidade, pode ser observado pela escolha do pisante. Tênis, por exemplo, mais do que despojamento e jovialidade, podem revelar muito mais de quem os usa. Quando estão novinhos passam-me certa indignidade, uma coisa quase que arrogante. Se um pouco sujos e, sobretudo, gastos, transmitem algo mais interessante. Assepsia demais, em alguns casos, não me cheira bem. Por melhor que cheire.
stoN

31/05/2010

07/05/2010

Porca rima

Em reta linha vai a vida
Sigo torto em tudo
É a sina da lida
Trabalho, cachaça e estudo.
stoN

01/05/2010

30/04/2010

Sou comum

Leio Nietsche, tenho orkut, facebook, msn e twitter. Tenho vergonha alheia, adoro uma boa noitada e detesto ficar de cara com desconhecidos em elevadores. É desconcertante. Acesso a internet pelo celular, adoro Coca cola e tenho medo da morte. Sou muito comum.
stoN

04/04/2010

Por engano I

Foi de uma forma desconcertante que Eziel conseguiu ajeitar o passo após o tropeção, o que era difícil de ser feito em calçamento tão irregular e úmido. Sentiu uma vergonha seca por parecer tão desajeitado justo em frente à loja onde Sofia trabalha. Pegou com todos os orixás para que ela, ou alguém que o conheça e possa dizer a ela, não o tenha visto quase a se estabacar tentando avistar Sofia. Por os olhos nela, ainda que muito rapidamente, e de longe, era melhor do que não vê-la por tanto tempo. A vergonha foi diluída no pensamento de que talvez, no dia seguinte, encontrasse a menina na volta da igreja. Eziel voltou cansado pra casa, pois percorrera a cidade de um lado a outro a pé. Era um dos menores esforços que fazia para satisfazer sua muda paixão. Tomou uma sopa quente e dormiu cedo. Tinha muito o que ser feito no dia seguinte.
stoN

17/03/2010

Preguiça
à vida
ávida
de vida
stoN

08/03/2010

Algumas Mulheres
Arnaldo Brandão / Tavinho Paes

Mulheres lutam boxe e viram freiras
Decidem eleições e pedem paz
As perfumadas cheiram como princesas
As loucas são tão boas como as que são más
Mulheres querem mel mesmo sendo abelhas
E de tão vaidosas querem muito mais
Se entregam ao prazer, possuídas
E todas ficam lindas quando bem amadas
Mulheres podem ser
À lua cheia
Serpentes nos jardins de Allah
São deusas quando dão luz às estrelas
E à vida que um dia, veio do mar
Algumas mulheres amam outras mulheres
Melhor do que alguns homens conseguem amar
As belas têm poder
As noivas sorte
Prostitutas viram santas quando gozam
Mulheres têm mistérios e se entendem
E uma vez por mês se deixam sangrar
Nos salões de beleza, feiticeiras
Se enfeitam simplesmente para se apaixonar

04/03/2010

O amor é óbvio
O amor é ópio
O amor é ódio
O amor é uó!
stoN

02/03/2010

Usar a caneta até não sobrar nem uma gota sequer de tinta.
Sugar até a infinitésima partícula de energia de cada coisa.
Ir fundo sem promessa de lucro, retorno, recompensa ou gratidão.
Até o talo!
Saber-se finito diante de um mundarel de possibilidades.
Ler até a última letra antes da cegueira.
stoN

01/03/2010

Às vezes, por mais estranho que pareça, as únicas coisas sensatas a serem feitas são: fumar uma cigarrilha, tomar um café amargo e ouvir Norah Jones, sentado num banco na varanda.
stoN

25/02/2010

Madrugada quente
A chuva me tirou o sono
A recordação do seu olhar triste
Levou-me a calma.
stoN

23/02/2010


22/02/2010

“Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! Tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse ‘para onde estamos indo?’ – não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: ‘estamos indo sempre para casa’”.

Raudan Nassar in: Lavoura Arcaica

21/02/2010

Maduras dicotomias

Decidi assumir por tempo indeterminado os fios brancos de minha barba. Durará pelo menos o quanto eu manter a barba na cara. O que não significa, em hipótese alguma, que eu esteja aceitando de bom grado o fardo que os anos estão me impondo à cara (e às costas). Por outro lado, se amanhã resolvo novamente simular um rosto imberbe com ajuda de aparelho elétrico e lâmina não quer dizer que nego o que o tempo e a maturidade tem me trazido (de bom e de ruim). Envelhecer é até interessante, ruim são os sintomas.
stoN

19/02/2010

Estou fazendo pequena obra em casa, como todas, trabalhosa e dispendiosa. São milhares de detalhes completamente estranhos ao meu parco e tosco universo de conhecimento: buchas, redutores, válvulas, registros e argamassas. E no meio dessa suja confusão deparo-me com uma filosófica e fundamental questão: Areia se mede em m³, como diabos isso é feito?
stoN

17/02/2010

Ressaca de carnaval com mais quatro dias de folga e muita coisa pra fazer e pensar. Nem tudo acaba em cinzas, infelizmente.
Stonto

11/02/2010

Maria José me cumprimentou com o mesmo aperto de mão de sempre: másculo, decidido e muito firme. Tão forte que chega a contrastar com a suavidade de seu sorriso, com a fartura de curvas de seu corpo e com o seu lindo e jovial rosto. Quando desci as escadas do prédio pensei comigo: A beleza é de Maria, o cumprimento é de José.
stoN

10/02/2010

"Pensou na morte; na morte, sob a forma duma vida nova, que crescia em seu ventre, como um embrião num útero. A única coisa fresca e ativa no seu velho corpo, a única coisa viva, duma maneira exuberante e crescente, era a morte. "

Aldous Huxley in: Contraponto

09/02/2010

É sempre preciso que você fique mais um pouco, tome mais um gole, ceda um pouco mais, fale mais baixo, rubrique esta última folha, compre mais um seguro, morra um pouco mais...
stoN

07/02/2010

Oopa!

Ana é um nome que, desde muito, me persegue. Sempre penso em como deve ser bom ter um nome assim, um breve palíndromo que gaste menos de quatro letras. Deve ser bom se chamar Oto. Melhor ainda é o casal Ana e Oto. Fundarei uma ONG: Organização dos Obcecados por Palíndromos Anônimos.
stoN

06/02/2010

Mais do mesmo

Vieira acordou cedo e nem deu tempo de passar na padaria para tomar o cafezinho habitual. Hoje não terá a lembrança do sorriso discreto de Neuza para lhe distrair durante o dia. A vida deve ser assim mesmo: nem sempre é como a gente quer. Fumou o último cigarro do maço assim que bateu o cartão. Quando ligou a máquina na tornearia, lembrou-se que, na correria, havia deixado o rádio ligado. A conta de energia só faz subir e ele ainda dá uma dessa? Essa preocupação substitui a lembrança do sorriso da mulata o dia todo. Nem tudo é como a gente quer mesmo.
stoN

04/02/2010

The eat is on the work's table


Intransigência marginal

Não me atende
Quer que eu o entenda
Foi autuado
Flagrante delito.
To Gatomário

03/02/2010

“Um dia irmão, comemoraremos a vitória tão esperada. Os que jogaram, os que só torceram na arquibancada. E bêbados de nós mesmos, a mesa coberta com os destroços do combate. Difícil dizer o que é sangue, e o que é molho de tomate. Brindaremos as cadeiras vazias dos que lá não estão. Os fantasmas de uma geração. Um que morreu no exílio e foi devorado por vermes estrangeiros. Um que enlouqueceu um pouco, e tem delírios passageiros. Um que ia mudar o mundo e se mudou. Um que era o melhor de nós e vacilou. Nossa Rosa Luxemburgo que abriu uma botique. Nosso quase Che Guevara, que hoje vive de trambique. Estaremos, você e eu, irmão, e os balões circundarão nossas cabeças, como velhos remorsos. E os garçons olharão para nós, e desejarão a nossa morte. Danem-se as nossas trapalhadas, estivemos nas barricadas. Não temos placas na rua, como heróis da resistência, mas, temos consciência de que os bárbaros não passaram..

Então você dirá:

- Como heróis ? Como não passaram, meu querido não te falaram? Os bárbaros ganharam.”


Luiz Fernando Veríssimo. In: Comédia da vida privada

02/02/2010

De volta

Andei sumido e confuso. Com medo. Sem rumo e sem norte. Amarguei umas poucas e boas, mas já está mais do que provado que: a) Carne de homem não dá pastel: tem que ralar; b) O que não mata fortalece; e C) Só é possível filosofar em alemão. Sendo assim, meus iguais, estou disposto a retomar o PNMP com força, vontade, virulência e, quem sabe, um tiquinho de poesia.
Insurgentes beijos!!!!

Pra Você Guardei o Amor

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir
Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar
Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar
Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar.
'
Nando Reis