“Um dia irmão, comemoraremos a vitória tão esperada. Os que jogaram, os que só torceram na arquibancada. E bêbados de nós mesmos, a mesa coberta com os destroços do combate. Difícil dizer o que é sangue, e o que é molho de tomate. Brindaremos as cadeiras vazias dos que lá não estão. Os fantasmas de uma geração. Um que morreu no exílio e foi devorado por vermes estrangeiros. Um que enlouqueceu um pouco, e tem delírios passageiros. Um que ia mudar o mundo e se mudou. Um que era o melhor de nós e vacilou. Nossa Rosa Luxemburgo que abriu uma botique. Nosso quase Che Guevara, que hoje vive de trambique. Estaremos, você e eu, irmão, e os balões circundarão nossas cabeças, como velhos remorsos. E os garçons olharão para nós, e desejarão a nossa morte. Danem-se as nossas trapalhadas, estivemos nas barricadas. Não temos placas na rua, como heróis da resistência, mas, temos consciência de que os bárbaros não passaram..
Então você dirá:
- Como heróis ? Como não passaram, meu querido não te falaram? Os bárbaros ganharam.”
Então você dirá:
- Como heróis ? Como não passaram, meu querido não te falaram? Os bárbaros ganharam.”
Luiz Fernando Veríssimo. In: Comédia da vida privada
3 comentários:
... é, os bárbaros ganharam.
sensacional esse texto do veríssimo.
beijos
Penso que ele até já andou por aqui, noutra feita, mas achei que sempre vale a pena ler de novo...
Link do episódio que consta este poema: http://www.megaupload.com/?d=ZH2MIL0U
A comédia da vida privada; 1ª temporada; episódio 3 - Apenas bons amigos...
Abraços
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