31/12/2008

Aracaju

É
"Tanto céu e mar
Num beijo azul..."
[Mais pela rima do que pelas cores]

26/12/2008

20 dias

Meus iguais
vou pra praia
prum merecido descanso
prometo procês
em breve voltar
stoN

25/12/2008

Também sonho

Hoje acordei com mil sonhos. Superada a TPN - Tensão Pré Natal (ou síndrome da papainoelfobia) começo a pensar na possibilidade do novo. Do novo ano novo... De fazer, errar, beber, sonhar, enveredar, buscar tudo de novo. Daí eu quero é ganhar céu!

"Voar, voar/ Subir, subir/ Ir por onde for/ Descer até o céu cair/ Ou mudar de cor/ Anjos de gás/ Asas de ilusão/ E um sonho audaz/ Feito um balão...
No ar, no ar/ Eu sou assim/ Brilho do farol/ Além do mais/ Amargo fim/ Simplesmente sol...
Rock do bom/ Ou quem sabe jazz/ Som sobre som/ Bem mais, bem mais...
O que sai de mim/ Vem do prazer/ De querer sentir/ O que eu não posso ter/ O que faz de mim/ Ser o que sou/ É gostar de ir/ Por onde, ninguém for...

Do alto coração/ Mais alto coração...
Viver, viver/ E não fingir/ Esconder no olhar/ Pedir não mais/ Que permitir/ Jogos de azar/ Fauno lunar/ Sombras no porão/ E um show vulgar/ Todo verão...
Fugir meu bem/ Pra ser feliz/ Só no pólo sul/ Não vou mudar/ Do meu país/ Nem vestir azul...
Faça o sinal/ Cante uma canção/ Sentimental/ Em qualquer tom...
Repetir o amor/ Já satisfaz/ Dentro do bombom/ Há um licor a mais/ Ir até que um dia/ Chegue enfim/ Em que o sol derreta/ A cera até o fim...
Do alto, coração/ Mais alto, coração...
Faça o sinal/ Cante uma canção/ Sentimental/ Em qualquer tom...
Do alto, o coração/ Mais alto, o coração..."

Sonho de Ícaro - [Pisca / Claudio Rabello]

24/12/2008


Então é Natal...

Tenho certeza que servi de inspiração para filmes de natal da Disney. Todo fim de ano fico mais rabugento do que de costume, detesto essas felicitações sem graça de gente que não conheço e não me empolgo um só segundo com essas decorações esdrúxulas que sempre gastam muita energia elétrica. A mesma energia que dizem ser poupada com o regaço no meu relógio biológico e no meu humor imposto pelo horário de verão. Em suma, sou aquela típica personagem que precisará morrer e perceber com a ajuda de alguma espécie de anjo que ela não compreendia o “Espírito do natal”. Daí eu terei uma nova chance e voltarei um verdadeiro coração de abóbora, todo derretido com o natal. Mesmo que seja só comilança e presentes... Beijo, me possua!

21/12/2008

18/12/2008

sem tido

penso, repenso e dispenso
interpelam-me o mundo, as pessoas, as coisas
sinto-me só, sinto sede de pinga, medo do norte
saudade do amigo e vontade de comer no chinês
sou um ser sentidor
sente dor
fingidor
finge dor
stoN

15/12/2008

INDELÉVEIS POSTURAS
Você se pinta e tatus agem
stoN

14/12/2008

o amor é filme

Aguardei todos os créditos subirem. Logo vem alguém me tirar daqui. Tenho saudade de quando deixavam a gente ficar para a próxima sessão. Esse talvez seja um dos meus maiores problemas. Sempre quero mais. Não entendi detalhes do enredo, achei o mocinho com um caráter muito duvidoso, alguns enquadramentos e planos-sequência poderiam ser melhor trabalhados e acredito que a história ainda tem que continuar. Deve ser influência do Tarantino ou, o que é bem pior, do Ang Lee. É difícil acreditar no "The End" por mais garrafais que sejam as letras. Se pelo menos eu gostasse de pipoca...

13/12/2008

Aos pares, como se enviados por uma divindade, saíram do prédio. A noite debruçava-se sobre tudo. Gabriel teve certeza de que seu companheiro não o ajudaria muito na missão daquela noite. Era um novato com cara de leitor do Tchechov e fã do Woody Allen. Tentou se concentrar no trabalho, confiar no parceiro. Teve progresso, mas as palavras de Beatriz, ditas na noite anterior, reverberavam: “Gabriel, quando você vai tomar as rédeas das coisas?”
Gabriel é a mistura exata de um poema do Leminski com uma personagem do Tarantino. Beatriz também percebe nele umas coisas de Almodovar e é isso que a fez se apaixonar perdidamente por ele.
A despeito das desconfianças de Gabriel, a noite correu como o previsto no planejamento. Ele deixou o companheiro perto do metrô e voltou pra casa decidido a tomar as rédeas de tudo. Beatriz se orgulharia dele.
Ela foi a primeira a morrer com um tiro certeiro na testa, depois de ter gozado bastante embaixo do corpo muito bem delineado de Gabriel. Sentado na cama para fumar um cigarro, tomando cuidado para não sujar a cueca branca de sangue, ele observa a mão que segura o cigarro. A mesma que disparou o tiro que deu início ao seu despertar. Um amigo sempre elogia a beleza de suas mãos. Ele será o próximo. Gabriel foi tomar banho e se masturbou.
stoN

12/12/2008

Ando com medo dessas árvores de natal e dos desenhos animados dos japas. Também tenho medo de assalto, de assombração e de ter um tumor no cérebro. Medroso confesso, acho que cientistas britânicos (eles pesquisam tudo) devem atribuir esse cagaço a alguma síndrome moderna relacionada ao estresse. Eu sei de mim que sempre fui mais medroso do que o outro que tinha medo de ter medo de ter medo. Dá medo só de pensar.
stoN

P.s.: Morro de medo dessas pesquisas dos cientistas britânicos...

11/12/2008

Aeromoça

Pousou
Volte pros seus
Deixe os céus
´
stoN

10/12/2008

Do fundo do baú do blog...

Depressa, Sofia! Traga-me algo que seja doce! Preciso de alguma coisa que realmente consiga trazer-me um pouco de deleite: música, fruta azedinha, poema sem fim aparente, um telefonema de um ausente amigo... Sabes bem que já me ofenderam. Levaram-me sonhos e idéias. As melhores idéias que já tive. Sabes também que acho o Camelo inteligente, todavia, esforço-me bastante e não consigo gostar de Los Hermanos. Já duvidaram de mim antes, Sofia. Você não é a única e nem será a última. Por certo não me trará o 38, então andarei ainda quixoteando por aí.
stoN

09/12/2008


04/12/2008

Pescaria com Pablo

Neruda assegredou-me: "Se todo dia cai dentro de toda noite, há um buraco onde existe muita luz contida. Há que se sentar à beira deste buraco e pescar muita luz, com paciência.". Paciência tenho tido. Tenho medo é da vertigem: e se me despenco nesse buraco de luz? Na verdade, o que me falta é disposição para insólita pescaria. E eu nem sei nadar...
stoN

03/12/2008

Lugar

Eu já quis morar em Banflinton
Na Fenda do Biquini
Em Townsvilee
Smallvile
Eu fugi de Sin City
Já toquei em Springfield
Férias em Sherwud
Passei por Gotan City
E Pedrock
Voltei de Oz
Visitei B612
Eu sou de Liliput
'
stoN

02/12/2008

Vale a pena ver de novo. Verde novo!

No próximo dia 26 o PMNP-Ice completa o seu primeiro ano de vida. Imaginem a situação desse humilde ser que vos fala quando, na maior ressaca natalina, cismou de criar um blog. Deve ser por causa da preguiça que tenho de Natal e de fim de ano que me aventurei nessa masturbação eltrônica-editorial. Confesso-me muito satisfeito por ter inventado de inventar esse troço. Como tudo na vida, tem me dado muita alegria e um pouco de ansiedade, sobretudo em dias como esses últimos em que há uma verdadeira e total falta do que dizer. E olha que eu sou um sujeito prolixo. Então, pra juntar a fome com a vontade de comer, até o dia 26 vou resgatar umas postagens antigas e repostá-las. Assim eu invento uma comemoração e me tiro a culpa da falta de inspiração. E se a Globo faz reprises, o que há de errado em fazê-las aqui? Insurgentes beijos!
stoN

Prioridade máxima

Amigo meu me disse que outro dia foi com um tio à Sociedade Protetora dos Animais, que fica aqui perto de casa. Ele perguntou ao atendente se era verdade que muitas pessoas abandonavam animais na porta da ONG durante a noite. O rapaz respondeu (imagino que com um mal disfarçado orgulho) que havia uma câmera na porta. Quando acontece esse tipo de abandono eles levam as imagens para a polícia.
Imaginem o delegado pegando o plantão e recebe a lista: dois assassinatos, um veículo roubado, quatro invasões em domicílios, sete furtos a mão armada e um poodle foi abandonado na porta da Sociedade Protetora dos Animais. Ele chama toda a equipe de plantonistas e anuncia: "Vamos investir todo o nosso contingente policial pra descobrir esse facínora que abandonou um cão indefeso na porta da instituição que cuidará dele. Temos que acabar com esse tipo de crime!"
stoN

01/12/2008


28/11/2008

Chupei mais uma pastilha pra tosse e virei pro canto. Só vieram as preocupações e nada do sono. Liguei de novo o desktop e fui naufragar pela madrugada. Acordei bem, diante das poucas horas dormidas, talvez por causa da vontade de ver chegar outra noite logo. Quem sabe dessa vez Morpheu dá o ar da graça. Vou chupar pastilha de sono.
stoN

27/11/2008

Pavonice

Tem um artigo meu no livro, pessoas! (é só clicar na imagem pra ler direitinho...)

25/11/2008

Tempo

esta de
em esta de
oral
stoN

23/11/2008

Ontem fui padrinho de casamento de um casal de amigos muito queridos. Foi uma cerimônia bonita e que me trouxe lembranças maravilhosas e algumas horas de doce convívio com outros tantos amigos dos tempos da graduação. E em tempos apaixonadíssimos que estou, só quero uma coisa:

"Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara"

22/11/2008

21/11/2008

Qualquer passante veria que Gilmara estava apaixonada. A expectativa da moça na janela, em plena Pirinópolis, e com o sol desmantelado da tarde, deixava absurdamente claro que tudo que seus olhos buscavam no horizonte era amor. Tudo era amor para Gilmara, mesmo que a pequena cidade não comportasse, nem de longe, toda sofreguidão que ela trazia no peito.
Salatiel, o irmão mais novo se aconchega nas coxas da moça e, num misto de choro e sono, diz:
_ Gil, você pode deitar comigo? Tô com sono.
_ Moço, tu já é rapaz! Durma só!
O moleque ignorou a repreenda da cabrocha e se pôs a puxar-lhe a saia. Gilmara, com o pensamento distante e sem nenhuma palavra foi ninar Salatiel. Se o amor passasse na estrada agora, justamente agora, a espera de duas horas teria sido em vão. Mas amanhã a negra de formas fartas voltará com a mesma expectativa. Quem sabe amanhã o amor passa?
stoN

20/11/2008

Ontem, cometi o disparate de escrever: “A escrita é minha companheira que não deixa o silêncio da agonia e da ansiedade se implantar”. Ao ler essa construção hoje, tive vergonha. Pode haver algo mais canastrão? Não faltam motivos à palavra para estar brigada comigo. Nossa Senhora dos Alfarrábios, rogai por nós que recorremos a vós!
stoN

19/11/2008

tenho
tido
pouco
a dizer
amo.
'
stoN

17/11/2008

Não poderia ser só números?

Outro dia, amigos e eu conversávamos sobre essas letrinhas chatas pra confirmação de coisas na internet. Antes era só em compras ou coisas do tipo. Agora até pra comentar em blog você precisa provar que é realmente uma pessoa através de números e letras. E não dava pra ser só números? Quando aparece o “z” eu nunca sei se é “z” ou “Z”. E o mais importante: A vida já não nos faz provar o tempo todo que somos uma pessoa de verdade?
stoN

16/11/2008


Feliz demais da conta!

Foi uma semana estranha que chega ao fim estranhamente saudosa. E, de uma forma um tanto absurda, com uma aparentemente inevitável vontade de que não acabe. O coração em festa fez com que os dias corressem quase tranqüilamente, a despeito das peripécias todas no trabalho. A felicidade persiste, ainda bem, mas dá também uma paúra. Desconfio que é o fim do ano que já me ronda com seus tentáculos insuspeitados. Parafraseando o Baleiro, o fim do ano é pior do que o fim do mundo.
stoN

14/11/2008

Já é mais do que sabido que "todas as cartas de amor são/ Ridículas./ Não seriam cartas de amor se não fossem/ Ridículas."*. Sendo assim, mando essa:

"Fecho os olhos pra não ver passar o tempo/ Sinto falta de você.../ Anjo bom, amor perfeito no meu peito/ Sem você não sei viver/ Então vem/ Que eu conto os dias, conto as horas pra te ver/ Eu não consigo te esquecer/ Cada minuto é muito tempo sem você, sem você.../ Os segundos vão passando lentamente/ Não tem hora pra chegar/ Até quando te amando,/ te querendo/ Coração quer te encontrar/ Então vem.../ Que nos teus braços esse amor é uma canção/ Eu não consigo te esquecer/ Cada minuto é muito tempo sem você, sem você.../ Eu não vou saber me acostumar/ Sem suas mãos pra me acalmar/ Sem seu olhar pra me entender/ Sem seu carinho, amor, sem você/ Vem me tirar da solidão,/ Fazer feliz meu coração/ Já não importa quem errou/ O que passou, passou." [Amor Perfeito - Michael Sulivan/Paulo Massadas]


*Álvaro de Campos

13/11/2008


12/11/2008

Seu Nome

Vander Lee
Quando essa boca disser o seu nome, venha voando/ Mesmo que a boca só diga seu nome de vez em quando/ Posso enxergar no seu rosto um dia tão claro e luminoso/ Quero provar desse gosto ainda tão raro e misterioso do amor.../ Quero que você me dê o que tiver de bom pra dar/ Ficar junto de você é como ouvir o som do mar/ Se você não vem me amar é maré cheia, amor/ Ter você é ver o sol deitado na areia/ Quando quiser entrar e encontrar o trinco trancado/ Saiba que meu coração é um barraco de zinco todo cuidado/ Não traga a tempestade depois que o sol se pôr/ Nem venha com piedade porque piedade não é amor.

11/11/2008

Retorno e terno

Comi baião de dois, camarões e tapiocas;
Tomei cajuína, sorvete de cajá e refrigerante de caju
como se fosse gente grande.
Dancei forró
como se eu soubesse fazê-lo.
Apaixonei-me
como se fosse possível.
Voltei à realidade
como se ela fosse razoável.

stoN

08/11/2008

esfarrapadas, velas desfraldadas, desculpas

Em Fortaleza, off line por uns dias...
Camarão com cerveja no Mucuripe...
eu jangadeiro de mim
stoN

06/11/2008

Madruguei

Acordei cedo
Pra ir longe
Pra longe de mim
Anoiteci
Não deu em nada
A latitude me persegue
stoN

05/11/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XV

De frente ao espelho, Maciel pensa no quanto está insatisfeito com o trabalho e com a acelerada calvície que o acomete. Busca uma tesoura na gaveta para aparar os pelos que lhe sobram no ouvido. Nosso herói tem saudade de Alice, de Marta e do cachorro idiota. Como era mesmo o nome dele? Desiste do esforço de tentar se lembrar.
Ganhou a rua e depois de comer um pastel na esquina segue para o shopping. Daniel já deve estar esperando. O cara tem sido um bom companheiro e eles já ficaram algumas vezes. O beijo é sempre melhor, ponderou Maciel descendo do ônibus. Agora que comprou um forno de micro ondas, o intrépido arquiteto se sente um grande “Chef” e pretende fazer um agrado a Daniel com uma lasanha congelada.
Definitivamente, Maciel precisa mudar de vida.
'
FIM
stoN

Globalização

No Quênia houve danças tribais ao redor da fogueira em frente à casa da avó do primeiro presidente negro dos USA. Israel lançou míssil na Faixa de Gaza e teme a perda do apoio da Casa Branca: vários palestinos ficaram feridos. Analistas e governos europeus temem a aproximação de Obama com os árabes. Em plena Belo Horizonte, do topo da minha insignificância, vejo com muito bons olhos esse negão!

04/11/2008

você
não sente a minha falta

'

e eu
sem ti

Martha Medeiros

03/11/2008

Espera

Hora inteira
Meio dia
Canseira
stoN

02/11/2008

Síndrome do louva-deus ou a mera querência de morrer de amor

O arrestei para o quarto e, num desassossego sem igual, beijou-me com tanta sofreguidão que tive a certeza, mais do que absoluta, de que eu merecia morrer naquele momento. Poderia e deveria ser acometido pelo meu último suspiro sentindo o peso do seu corpo sobre mim e a astúcia de sua língua ágil e incisiva. Foi tudo tão efêmero, desencanado e livre que o gosto do beijo ainda está em mim. Minhas mãos ainda guardam o calor delicioso da sua pele. Ele todo, inteiro, com alma e tudo, ainda está em mim. O pensamento não me escapa um só segundo e um sorriso de orelha a orelha teima em não sair de meu rosto. “Como é perversa a juventude do meu coração que só conhece o que é cruel, o que é paixão”.

stoN

Maciel Antero da Cruz Neto

XIV

Já faz duas horas que Maciel perambula pela cidade. Pensa em trocar de emprego que já que o novo está tão ruim quanto trabalhar no escritório de Suzane. Saindo de um bar onde parou para um pastel, encontra-se com Daniel, um velho amigo da faculdade. Depois de milhões de recordações do curso e da festa de formatura, muitas delas impublicáveis, resolvem tomar uma cerveja.
_ Você ainda tem aquela jaqueta de couro marrom? Pergunta Daniel.
_ Uso pouco agora.
_ Menos mal. Aquilo tava um lixo na época da faculdade.
Maciel fica preocupado. Daniel não é a primeira pessoa a criticar seu estilo.
Enquanto a conversa segue animada, assistem a um assalto na esquina. Maciel se assusta muito e pensa que precisa mudar de vida. Seria bom morar numa cidade menor e mais tranqüila.
Combina com Daniel de saírem no fim de semana. Maciel não atende ao telefonema do amigo quando ele liga na sexta. Ele desconfia que o moço esteja a fim de algo mais e Maciel não quer ter nada com homem agora.
stoN

01/11/2008

31/10/2008

Ascensão

Eu que nem fumo
acendi um cigarro de canela
e me senti melhor.
Será que eu trago?
'
stoN

30/10/2008

Perdas, danos, amor e restos humanos

Quando estiquei a mão pela segunda e derradeira vez ele já não estava ao meu lado. Pensar que deve ter ido acordar em outros braços deu-me uma tristeza que veio acompanhada de um alívio. De alguma forma senti-me livre por não ter o belo corpo ao meu lado. Não saberia mesmo o que dizer quando acordássemos e não sei se teria coragem de sair da cama, sorrateiramente, sem falar algo. Tudo toma contornos tão difíceis e insuspeitados no day after. Felizes os louva-deuses que morrem no coito.
stoN

Maciel Antero da Cruz Neto

XIII

É sexta feira, dia de pagamento e Maciel pensa em se divertir um pouco. Não quer ir ao mexicano. Talvez ele procure algo mais dançante e com gente interessante. A solteirice já o incomoda. Sabe-se namorador, tem que ter alguém pra dividir as coisas, só assim se sente bem, mesmo que seja dividir as toalhas limpas. Pensa que precisa mudar de vida e que tem muita louça suja pra lavar quando voltar pra casa. E se ele não saísse e passasse uma inusitada noite de sexta fazendo uma, mais inusitada ainda, faxina na casa? Deve ser bom ser surpreendente e inusitado. As mulheres devem gostar de caras assim.
No fim de noite, sentado tradicionalmente no cantinho esquerdo do balcão, Maciel se despede de Augusto, o cara que serve bebidas no balcão do mexicano. Nem inusitado, nem inovador. Maciel é tradicional demais pra essas coisas.
stoN

28/10/2008

Faz um calor de matar em BH City. Derreto-me diante do ecran e nem sei se vale à pena escrever qualquer coisa. Estudar inglês: nem pensar, o calor sufoca. Será que na Réplubique Française eles têm esse tipo de problema no verão? “Eu sempre quis viver no Velho Mundo/ na velha forma de viver/ o terceiro sexo, a terceira guerra e o Terceiro Mundo/ são tão difíceis de entender"
stoN

26/10/2008

Para o que nem o amor mais sincero
alcança
E toda confissão se faz ineficiente
Quando nem o desejo mais profundo
é suficiente
Resta a amizade.
stoN

24/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XII

Maciel recebe uma carta de Marta dizendo que está morando no interior de São Paulo e Alice é sua vizinha. Ele fica excitado de pensar as coisas que elas devem estar fazendo juntas. Já passaram dois meses que a briga do cachorro culminou no rompimento. Foi tanta discussão que Maciel ponderou que Alice, com o bilhete, foi, na verdade, muito sensata.
O trabalho está razoável acostumou-se com todas as estranhezas. Na realidade Maciel anda tão estranho quanto todos de lá. Estranheza pega. Sobe disso quando se pegou tomando café com a alça da xícara virada para o queixo, da mesma forma que a loira da recepção sempre faz.
Provavelmente por saudosismo, Maciel agora é freguês assíduo do bar mexicano e teme chegar o tempo em que não queira mudar de vida.
stoN

23/10/2008

Estréia

São nascidos Isadora e Gabriel. Os gêmeos irmãos de Matheus, motivo das maiores alegrias de minha vida na última década. Agora tenho três sobrinhos. Estrearam hoje, trazendo mais luz para nossa família. Tio coruja que sou, os saúdo e divido com vocês a incontida alegria que me arrebata. Que se divulgue aos quatro ventos: Isadora e Gabriel estrearam!
stoN

22/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XI

Marta entra nervosa no quarto enquanto Maciel, distraidamente, fuma uma cigarrilha indiana, sabor cravo, que sua amiga Luana trouxe de Londres. A aparente calma do moço a deixa mais nervosa ainda.
_ Você deixou Asdrubal fugir de propósito.
_ Claro que não, meu amor!
As palavras de Maciel parecem a fumaça. Na verdade ele demorou alguns segundos para se lembrar que era esse o nome do cachorro. Como ele poderia saber que aquele cachorro besta fugiria?
Marta fala muitas coisas e Maciel não consegue acompanhar metade delas. Ele nunca a vira tão brava e, muito provavelmente por isso, tão linda. Ele, distraidamente segue pensando num monte de coisas sem importância enquanto ela esbraveja e tenta adivinhar que tipo de substância tem no cigarro, pois Maciel está mais lerdo do que de costume. Isso a irrita mais ainda.
_ O dia em que eu te dei eu vi que não tinha gostado do coitadinho...
stoN

21/10/2008

Moço, conta-me algo novo
Diga-me alguma coisa que me inspire
Expire-me
Tira-me dessa letargia estúpida
Salva-me de uma manhã de domingo
Ajuda-me, meu camarada, a não morrer de tédio
E de sufoco
Nesse maldito horário de verão
Mostra-me algo que tenha leveza, charme e graça
Dê-me o beijo no asfalto
O da Mulher Aranha
Porco Aranha.
stoN

The World, Justified


20/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

X

Quando já pensava em vender a máquina de lavar, Maciel conseguiu emprego como trainee numa grande empresa de engenharia e arquitetura. Tudo é novidade e tudo é um saco. Até o cafezinho parece estranhamente diferente. Independente de qualquer coisa, ele precisa garantir o salário no fim do mês, então melhor não ligar para as estranhezas.
Alice cumpriu o que disse no bilhete: não voltou mais. Nem mesmo pra mais uma trepada a três. Já são três meses de namoro e Marta já fala em casamento. Impressionante como mesmo as mais decididas e bem resolvidas tem esse problema. Maciel achava que isso só acontecia com as frágeis e carentes. Doce ilusão. Maciel precisa mudar de vida.
Ston

19/10/2008

Belos Horizontes

A melhor forma de girar pela cidade é com gente de fora. É bom re-conhecer o espaço urbano acompanhado do olhar estrangeiro. É um constante descobrir coisas que já sabia a respeito de ruas, bares e esquinas. A cidade me arrebata. Aceito-me urbano e tento ser urbanista (termo presunçoso que me encanta, me estimula e me assusta). Quero a urbe, preciso entendê-la e me apoderar de seus processos e encantamentos. Preciso destrinchar a textura urbana. Contento-me, quase sempre, em sentir seu cheiro, ouvir seus berros e contar seus pobres que perambulam. Na verdade, a cidade do baixo meretrício me basta.
Ston

18/10/2008

Medo de não mais tê-los


Antes de dormir
tenho pequenos medos.
Quando acordo
eles já cresceram e saíram de casa.
Ston

16/10/2008

Ao mestre


Em 16 de outubro de 1854, em Dublin, nasceu Oscar Wilde

Maciel Antero da Cruz Neto

IX


Marta e Alice são amigas de infância foi a descoberta triunfal ocorrida num copo sujo num fim de noite. Maciel e Marta, após passarem o dia inteiro procurando infrutiferamente o cachorro que fugira, foram pro bar e lá deram de cara com Alice. Esticaram a noite. Maciel gostou de fazer sexo com as duas ao mesmo tempo. Sentiu-se grato às duas. Alice, com ressaca física e moral, foge de manhã antes dos dois acordarem.
Maciel acorda e sabe que tudo vai acabar: agora nem Alice nem Marta. Pensa na solidão, na falta de emprego e nas coisas chatas da vida. Deveria ter economizado o dinheiro da máquina de lavar pra não se preocupar tanto com grana enquanto não consegue trabalho.
Pensa que assim que Marta sumir, o que deve acontecer tão logo ela acorde, ele vai alugar um lugar mais barato, talvez uma quitinete. Marta acorda e eles fazem um sexo violento. Pela primeira vez ela o concede o controle da coisa toda. Foi a melhor trepada que tiveram. Alice poderia ter pelo menos assistido, pensa Maciel.
STon

15/10/2008

Mais do mesmo

É tanta grosseria no mundo. Tanta coisa estranha, cansativa e estúpida que me dá preguiça de tudo, até de sair da cama. Tô muito cansado de arrogância, de prepotência, de egoísmo e, sobretudo, de ingratidão. Juro que tento me esforçar e nem ligar pra essas coisas. Tento mesmo construir relações diferentes ao meu redor, mas as porradas não param: chegam-me de todos os lados, sobretudo de onde menos espero e atingem onde mais machuca. E sobrevém o cansaço e a preguiça. No fim das contas não sobra muita coisa mesmo, só “eu, a viola e deus”. Ou será que foi só mais um dia ruim demais para um cara sensível demais?
stoN

MSN

Está on line
Nem um oi
Oi line
Ô
'
Ston

14/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VIII

É aniversário de Maciel e ele resolveu comemorar com estilo. Tem um mês que está saindo com Marta e ela o presenteia com um filhote vira latas. O moço não conseguiu disfarçar o descontentamento com o presente. Trepa com Marta e sente saudade do jeito como Alice conduzia a transa. Está na hora de mudar de vida. Não sabe se é pela trepada ou pelo cachorro. Ainda não tem emprego. Cansou de buscar em escritórios de arquitetura e urbanismo. Talvez Suzane a as outras víboras tivessem razão: a única coisa com a qual saiba lidar seja realmente uma garrafa de vódica. Vai procurar um escritório só de arquitetura.
_ Onde tem uma toalha?
Pelo menos dessa vez ele tem toalhas limpas e secas além de uma máquina de lavar tinindo e um cachorro besta!
Ston

13/10/2008

de chofre

_ Venha logo, Maristela! Ande menina!
Era possível se ouvir a voz adocicada de Marisa ao longe. Era uma negra muito gorda e os filhos sempre foram a sua vida. Desde que Agenor deixou a casa, ela tem se dedicado exclusivamente a Pedro, Maristela e Yago. É por eles que ela passa o dia todo faxinando casas de madame e engolindo sapos dos mais variados tamanhos. Anda cansada demais. Até pra cuidar dos meninos, que é o que ela mais gosta e se orgulha nessa vida.
_ Não espere que eu vá lhe buscar, Maristela!
_ Tô indo, manhinha!
Quando é que essa menina vai tomar juízo, meu Deus. Se não abrir os olhos, ela num vai dar em coisa que preste. As coisas andam tão atravessadas nesse mundo. A menina só quer ficar vadiando na beira da praia o dia todo.
Ofegante, Marisa vai pro quarto. No caminho ela confere o banho de Pedro e Yago. É preciso cuidar para que a conta de luz não suba feito rojão em festa de Nossa Senhora dos Navegantes.
Deitou-se um pouco. As pernas andam inchando demais. Marisa tem medo de trombose, embora o médico tenha afastado essa hipótese. Ela repara que há muito pó sobre a mesinha no canto do quarto, onde guarda os livros e cadernos das crianças. Deve ter semanas que não se passa um pano ali. Ela pensou em se levantar e limpar a poeira, mas antes de fazer um movimento sequer, uma dor dilacerante lhe atingiu o peito. Um infarto a pegou de cheio.
Maristela foi quem mais chorou no enterro, ela sabia que a vida seria bem mais difícil de agora pra frente. E foi.

Ston

12/10/2008

Ando perdido em resquícios de desejos antigos salpicados de nuances diáfanas de novidade. Nada que se sustente no peito pelo tempo suficiente de uma paixão ou de duas doses de run num copo sujo. “Que Deus te guie porque eu não posso guiar.” E que não me venham dizer que a falta de rumo é mero pretexto disso ou daquilo, bem sei que de despretensioso que sou, deixo ao largo tudo que é baliza ou justificativa para todo e qualquer sentimento meu. Espero apenas que tudo não resulte em mais uma noite, em vão, na companhia da amargura e de um bom amigo ouvinte. É nessa hora que algo em mim esbraveja: “Larga a mão disso, moço! Vale à pena perder tempo com essas idiotices não!”. Sou um cretino pretensioso, penso a dor.
Ston

Noites imperfeitas frases feitas

Uma noite insone com algo/alguém que valha a pena é melhor do que qualquer sonho

10/10/2008


09/10/2008

Este poema do Arnaldo já figurou aqui em dezembro último. Todavia, devido a impublicáveis questões de ordem pessoal, ele precisa dar as caras aqui de novo.
`

O amor, sem palavras. Ou. A palavra amor, sem amor. Sendo amor, ou. A palavra ou. Sem substituir nem ser substituída por. Si, a palavra si, sem ser de si gnada ou gnificada por. O amor. Entre si e o que se. Chama amor, como se. Amasse (esse pedaço de papel escrito amor). Somasse o amor ao nome amor, onde ecoa. O mar, onde some o mar onde soa. A palavra amor, sem palavras.

Arnaldo Antunes

08/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VII

Era uma estranha manhã de chuva fina. Tão desconcertante quanto uma manhã chuvosa pode ser. Na fila do Seguro Desemprego, atrás de uma senhora prodigiosamente gorda e com uma blusa roxa, estava Marta. Morena linda, voluptuosa, farta, repleta de salutares curvas.
Ela oferece a Maciel um pedaço de chocolate, talvez por ter percebido no olhar dele mais fome do que desejo. Ele, mais desconcertado do que de costume, sentia vergonha da camiseta surrada que usava. Combinam de sair pra um mojito num bar mexicano. Ele sabia que isso não daria em nada. Como algo realmente consistente pode começar na fila com chocolate, fila de Seguro Desemprego e mojito num barulhento bar que obriga os garçons a usarem sombreiros? Seriam apenas dois desempregados numa noite suja.
Marta é decidida e possui o discreto charme da burguesia, consegue controlar tudo e todos sem parecer arrogante ou antipática. Maciel gosta disso, ele nasceu pra obedecer.
Ston

Não Identificado

Eu vou fazer uma canção pra ela
Uma canção singela, brasileira
Para lançar depois do carnaval
Eu vou fazer um iê-iê-iê romântico
Um anticomputador sentimental
Eu vou fazer uma canção de amor
Para gravar um disco voador
Uma canção dizendo tudo a ela
Que ainda estou sozinho, apaixonado
Para lançar no espaço sideral
Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior
Como um objeto não identificado

Caetano Veloso

07/10/2008

No meio do dia

reunião tão chata
quanto uma reunião pode ser
quero tomar um bom café
tão bom quanto um café pode ser
Ston

06/10/2008

Montes Claros



Minhas putas tristes são alegres e dançam com os garçons.



Ston

Maciel Antero da Cruz Neto

VII

Feliz com seu MP3 o moço se dá um tempo de férias. Tempo suficiente para ajeitar algumas coisas em sua casa. Comprou finalmente uma máquina de lavar nova, o que facilitou um pouco as coisas. Pena que Alice não pode sentir a maciez das toalhas agora.
Maciel está contente por poder ir ao cinema no meio da tarde num dia de semana. É coisa muito boa. Ir ao cinema e estar feliz são coisas muito boas. E ainda tem o bar do Euclides que o traz uma paz nunca antes experimentada.
Depois de duas semanas bate uma saudade assustadora de Alice. Maciel precisa mudar de vida.
Ston

04/10/2008


"Foi tanta força que eu fiz por nada
Pra tanta gente eu me dei de graça
Só pra você eu me poupei"
Leoni

Maciel Antero da Cruz Neto

VI

Passadas duas semanas do baile de formatura e Maciel ainda não se lembrava de muita coisa que havia acontecido. Era frustrante demais perceber que além de não ter que ir à aula todos os dias, nada havia mudado consideravelmente em sua vida como ele esperava.
Pensava isso até encontrar um bilhete que Alice havia deixado em baixo da porta:
“Nunca mais volto”.
Era isso? É assim que se terminam os relacionamentos? Vai saber.
No dia seguinte Maciel criou coragem e pediu demissão do Escritório de Arquitetura e Urbanismo. Suzane, por pura compaixão, o demite.
Ston

02/10/2008

Desejo sede

Seco que estou
clamo por sede
tudo que era perene
em mim
minguou
até a sede.
`
Ston

01/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

V

No dia seguinte ao baile de formatura Maciel está igual a um pinto na merda. A festa foi boa demais, há felicidade demais, foi bebedeira demais. Ele está livre demais da faculdade de merda, da rotina de merda, do macarrão de merda do Sr. Edson... Mesmo acordando no banco traseiro do carro de um amigo, é felicidade demais. Não sabe do amigo. Pra dizer a verdade, Maciel se esforça para se lembrar de quem é esse carro, quem é esse amigo. Confusão demais. A ressaca monumental é da ordem do insuportável.
Chega em casa passando por uma verdeira maratona no transporte público. Depois de um sono revigorante, ou perto disso, ele passa o dia todo em casa ouvindo Bach e tomando suco de abacaxi. Às vezes parece que tudo na vida de Maciel é demais. Totalmente demais...
Ston
Acordei pensando em mudanças e nas várias coisas que aguardam conserto e reforma em minha casa. Deparei-me com a seguinte frase no livro que estou a ler: “O lance é colocar freio no logro humano de si mesmo, a começar com o meu.*” Vou mudar é nada e as tranqueiras continuarão quebradas. Vou ler Leminski.
Ston
*John le Carré in: Amigos absolutos

29/09/2008

Meu professor de inglês sugeriu-me
que eu estude espanhol
em vez da língua da Rainha.
Será que tenho salvação?
Duvido.
God Save the Queen!!!
`
Ston

28/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

IV

_ Suas dores nas costas diminuíram? Alice pergunta solicita.
_ Um pouco. Tenho vontade de tomar mais uma. Anima?
_ Nem pensar, Maciel! Amanhã acordo muito cedo.
Ela parece buscar algo que não encontra na desordem do quarto.
­_ Quer o quê?
_ Acho que perdi meu brinco azul. Gosto tanto dele...
Maciel pensa em tudo que é azul e que pode ser gostado nesse mundo: o mar, o céu, pedras de anil, arara, os olhos de Sinatra...
Depois que Alice sai, ele vai pro computador e lê um e-mail de uma antiga namorada. Ela diz que ele foi a melhor trepada da vida dela. Maciel pensa que ela deve estar sozinha demais ou que só arrumou caras babacas desde que se separou dele. Saiu de casa pensando ainda nas coisas azuis boas de serem gostadas e foi comprar um cd do Ramones.
Ston
PUTA QUE PARIU!!!

Nada por mim


Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai, eu não fui
Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu
Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar
Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar
'
Herbert Vianna & Paula Toller

27/09/2008

Quem mexeu no meu puta-que-pariu?

'
Não saí ontem por causa de uma conjunção de fatores: chuva, frio, cansaço, raiva e outras delongas. Justamente por isso, acordo sem o famigerado “Puta-que-pariu” reverberando na cachola. Talvez seja bom fazer isso mais vezes. Talvez seja bom estudar mais e trocar de óculos. Talvez eu precise mesmo de uma longa viagem pro litoral. É chato acordar assim. Sinto-me egoísta, cheio de querências e com pouca vontade de tudo.

26/09/2008

O amor bate na porta
o amor bate na aorta
fui abrir e me constipei.

Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos maduros.

Drummond

25/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

III

Assim que Alice foi embora, depois de mais uma trepada, mais um cigarro e mais um desejo de mudança, Maciel voltou sua atenção para o trabalho de planejamento urbano. Precisa terminar logo esse curso de arquitetura e provar pra todo mundo que uma garrafa de vódica não é a única coisa que ele consegue terminar sem a ajuda de ninguém. Quem sabe com o diploma na mão ele consegue um trabalho nos concorrentes do escritório de Suzane? Pra se vingar dela e das outras todas. Teme já estar ficando persecutório com essa coisa toda. Tudo é foda demais. Tem que se concentrar nos estudos, já está no último período.
Dorme sobre o livro e acorda de madrugada com uma enorme dor nas costas e com uma fome de anteontem. Ainda dá tempo de pensar novamente em mudar de vida antes de pegar no sono de novo, dessa vez no lençol quentinho que ainda tem o cheiro de Alice.
Sonha que está dirigindo um conversível, ouvindo Raulzito e com a Cyndi Lauper completamente descabelada no banco do passageiro. Ele colocava o som no talo, com medo de que ela começasse a cantar. Precisa mesmo mudar de vida.
Ston
sofro feito cão sem dono
não culpo ninguém
nem posso
bebo
s
e
m
p
r
e
na taça da amargura
Ston

23/09/2008

amor é mato

em silêncio eu amo
mais do que penso
do que respiro
eu amo.
`
Ston

22/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

II

Quando Alice foi se lavar, Maciel ligou a tv descompromissadamente, bem sabe que àquela hora da manhã não teria nada interessante pra se ver nos canais abertos. Pensou nos idiotas que dizem que dinheiro não traz felicidade. Pelo menos tv à cabo pode pagar o que, mesmo não sendo a felicidade em si, já é um passo pra longe da tristeza. Sempre pensava em mudar de vida depois de trepar ou depois de ser esculachado por aquela mulherada neurótica do escritório. Acredita que depois de um soco no olho ou de uma facada num rim deve-se pensar o mesmo, mas aí já é tarde demais. Sempre parece que é tarde ou cedo demais pras coisas. Deus deve usar o tempo pra brincar com os desejos dos mortais.
_ Onde tem toalha limpa?
A voz aveludada de Alice o desperta dos devaneios. Precisa comprar uma máquina de lavar nova. Tem preguiça de lavar roupa com tanta bagunça que a antiga faz. Se não tiver uma toalha limpa e seca a menina vai chiar e ele vai ter mais vontade de mudar de vida. Ou de trepar de novo. Meninas bravas e molhadas são ótima inspiração pra Maciel.
Ston

21/09/2008

Todo Sentimento


Preciso não dormir/ Até se consumar/ O tempo da gente/ Preciso conduzir/ Um tempo de te amar/ Te amando devagar e urgentemente/ Pretendo descobrir/ No último momento/ Um tempo que refaz o que desfez/ Que recolhe todo sentimento/ E bota no corpo uma outra vez/ Prometo te querer/ Até o amor cair/ Doente, doente/ Prefiro então partir/ A tempo de poder/ A gente se desvencilhar da gente/ Depois de te perder/ Te encontro com certeza/ Talvez num tempo da delicadeza/ Onde não diremos nada/ Nada aconteceu/ Apenas seguirei/ Como encantado ao lado teu.

Chico Buarque e C. Bastos

Não é o fato de estar apaixonado ou não, nem mesmo a lembrança de teu silêncio cruel e dilacerante que me move hoje. Talvez seja algo tangencial à melancolia de seu olhar tão inabalável, que nem diante da expressão mais jocosa, se dissipa. A sórdida melancolia poética, que consegue assumir tétricos contornos em tardes frias como as de hoje, trouxe-me de novo o desejo de, no teu olhar, vislumbrar tudo que poderíamos ter construído juntos. Deve ser o que o Lobão chama de "Nostalgia da Modernidade" ou só saudade mesmo. “Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.”

Ston Saudoso da Silva

Maciel Antero da Cruz Neto

I

Maciel estava cansado de ser humilhado por tanta gente. As “meninas” do trabalho eram as piores, melhor dizendo, eram as melhores, as mais eficientes no intento diário de mostrar a ele que não merecia estar onde estava, que por méritos próprios jamais chegaria ao cargo de auxiliar de projetos (com relevantes atribuições de contínuo e estagiário) em um famoso escritório de arquitetura e urbanismo. Ainda se fosse só um escritório de arquitetura tudo bem, mas era também de urbanismo, o que só fazia reforçar a incompetência e o desmerecimento do rapaz. Resolveu procurar Suzane, sua presunçosa e arrogante chefe para discutir sua demissão. Gostaria, se fosse possível ser demito, não queria perder os direitos trabalhistas que era o que iria garantir minimamente sua sobrevivência até conseguir outro emprego. Talvez até comprasse um mp3 com o dinheiro do seguro desemprego. Estava querendo um desde muito.
A conversa foi pior do que esperava. A carrasca disse que, uma vez que ele queria sair do emprego, que se demitisse. Emputecido, saiu do trabalho direto pro bar do Euclides. Precisava muito de um pouco de conversa fiada pra esquecer as mazelas de sua medíocre e prosaica existência.
Ston

19/09/2008

Penso mesmo que é chegada a hora da minha revolução pessoal. Chega de esperar que as coisas aconteçam como penso que deveriam acontecer. O universo e tudo que nele se encontra insiste em não ler o roteiro que criteriosamente preparei pro funcionamento de tudo. As pessoas são as piores. Já me acostumei com o fato delas não seguirem escripite algum, são algo imponderável, infelizmente. E eu, senhor frustrado de um universo inteiro, tenho que me resignar a fazer com que as coisas aconteçam. Que puxa! Minha revolução pessoal encontra eco/inspiração na revolta pessoal de meu novo professor de inglês (as aulas já fazem parte do processo revolucionário): “Eu quero dois pãezinhos! Não um só. E os quero com miolo e com manteiga!!!”
Ston

17/09/2008

Grávido estou, assim como Cazuza, de um liquidificador e vou parir um terremoto. A gestação é atribulada. Com audácia sigo sem ultra-sonografia que dê conta de tanta prenhês. Haverá tempo e espaço para tão vasta prole? O medo do fórceps e do pós-parto deprime desde já e supera, em muito, o gozo diáfano da concepção. Tô com vontade comer tijolo.
Ston
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16/09/2008

Uma manhã de chuva num esdrúxulo fim de inverno tropical faz tudo me parecer meio insólito numa cidade grande. Em ano eleitoral, a urbe toda é um canteiro de obras e há lama, saudade e grama recém plantada. O que me consola é que, com a chuva, além da saudade, a grama também deve crescer.
Ston

13/09/2008

Pra dizer nada

Acordei com um amigo comendo pão (ele sempre está comendo) e olhando para minha cara. Não tive tempo nem privacidade pra processar o puta-que-pariu tradicional dessas manhãs. Ontem foi mais uma noitada boa. Tão boa quanto uma noitada pode ser. Tive hoje mais uma daquelas manhãs de sábado com ressaca produtiva. Não trabalhei no texto que precisa de revisão, mas li muito e ajeitei umas coisas por aqui. Estou feliz, cansado e desesperadamente necessitado de férias, mas encontro-me feliz. Não há nada que uma boa noite de farra não cure.

11/09/2008

Para um amor que atravessou o Atlântico II

Ao Little Dylan

Confesso-me ávido por amores. De várias ordens e de todos os matizes, quero amor. Não me furto, um só segundo, de buscá-los, vivê-los, sofrê-los e, nunca sem uma dose de drama, lançá-los para o limbo.
Não obstante os turvos e deliciosos meandros do desejo, tenho amores que são o que há de mais translúcido em mim. São agradáveis e inexplicavelmente dotados de sutil presunção pequeno-burguesa. Não sofro muito quando esses amores diáfanos acabam de mansinho. Sempre acabam assim. Um deles não acabou e foi levado pro Velho Mundo. Deixou reverberando em mim uma tormenta de alegria e a saudade intensa de um beijo ímpar.
Ston

Verborragia porno-fraterna

Uma noite em claro
dentro do Gatomário
outra insone
dessa vez no Stone.

Ston

10/09/2008

cedo demais

Veio-me inesperadamente
como quem espera da chuva uma remissão
do álamo, frondosa sombra.
Foi-se sem peso e sem medida
saiu de mim em suores
deixou-me angústias e vontade de mais
tarde de mais
`
Ston

09/09/2008

Aviso em porta de banheiro numa casa de encontro administrada por freiras em BH. Ficou-me a pergunta: e o que eu faço com a bosta?

08/09/2008

Era a segunda vez que lhe batia a repentina vontade de ligar para Cristiano. Seria só para ouvir a voz dele, não teria coragem de lhe falar nada. O que dizer não faltava, mas coragem sim. Era a mudança de estação, só podia ser. Toda vez era a mesma coisa: tinha vontade de ficar horas vendo velas coloridas se consumirem e sempre surgia essa vontade de reviver o que já não dava, o que já não era. Se é que foi.
Voltou pra cozinha em busca de outro café amargo. O bule vazio denunciava que era hora de passar outro ou de pensar em comer algo. Nem uma coisa, nem outra. Paulo foi até a banca e comprou uma revista de fotografia. Iria passar o dia no parque vendo as fotos. Não valeria a pena mesmo ficar em casa o tempo todo tentando não ligar. Tomou um picolé de limão e se sentiu melhor. A vida é feita de prazeres bestas. Tão bestas como o sorriso inocente e contagiante de Cristiano.
Ston

05/09/2008

Stonto

By Léo (Coopert - Itaúna)

04/09/2008

02/09/2008


01/09/2008

Domingo sem energia elétrica

A ressaca produtiva é melhor que se pode ter. Acordei com todos os terríveis sintomas de uma homérica ressaca, todavia com um contentamento que só uma maratona de butecos poderia inspirar-me. Ontem, uma tempestade devassava a cidade e nós acabávamos em cerveja, cantorias e gargalhadas.
Havia tempo não me divertia tanto e em tão boa e inteligente companhia. Como se tudo já não fosse estranhamente interessante, pelo simples fato das pessoas divertidíssimas e agradáveis se encontrarem num local que, na melhor das boas vontades, possa ser definido como alternativo, tentar lembrar o nome do blog de Caetano que faz um trocadilho com o lema positivista da bandeira, encheu tudo de uma graça anárquica e etílica, etílica demais, arrisco dizer. Para além disso, fui presenteado por Marcelo com uma passagem de Thomas Mann que deu contornos pseudo intelectuais ao cenário pré-apocalítico do bar com videoque. Mann falava da gentileza típica de quem tem interesse sexual. Mojica esbanjava gentileza com as prováveis presas. E olha que ele, até certo ponto misantropo, alegou antes, estava numa fase que dispensava a companhia feminina. Praticamente um celibatário.
Hoje, soube através de Marcelo que Viola, do alto de sua sensatez de bailarina, assaz sabiamente, sentenciou: “você não pensou que sairia incólume de um lugar como esse?”. Só me fica uma questão: Quando voltaremos lá?

30/08/2008

Recuerdos

Meus iguais,
Evoé!
Revirando arquivos encontrei agumas preciosidades (modéstia às favas) do "The Xinguara's Telegraph", jornalzinho que escrevia contando minhas peripécias no Pará. Segue texto da edição 00 de agosto de 2003
Expresso da agonia

A viagem BH – Xinguara é um evento extremamente difícil de ser descrito. Mais de trinta horas dentro do ônibus transformam o termo inusitado insuficiente para narrar a experiência. Não falo das belezas do cerrado ou das cidades que se sucedem num encantamento constante de vida brejeira. O espetáculo dantesco é o que se dá dentro do veículo.
Meus queridos amigos, leitores de tão prosaico tablóide, já ouviram o relato do gringo que passou a outra viagem toda (Xinguara – BH) conversando putarias com uma indígena. Sabe lá deus o que foi feito dessa nativa em Belo! Deve estar servindo de escrava sexual para o tal pervertido americano. Vou tentar descrever as peripécias pelas quais passei nessa vinda para o Pará.
Vocês não acreditam na quantidade absurda de crianças a bordo. E como gritam, pirraçam e choram, principalmente durante a madrugada. Fico por entender como essas criaturas desalmadas, que ainda tem o descaramento de se auto-intitularem mães, submetem esses monstrinhos a tão torturante e extenuante viagem. Parece que os diabinhos combinam de satisfazerem os seus intestinos em intervalos regulares e alternados de forma que o que o ônibus permaneça constantemente com cheiro de fralda descartável usada. Aproveito para deixar o meu protesto contra o infeliz que teve a idéia absurda de colocar ar condicionado em ônibus de viagem. Chega a me irritar estar de blusa de frio e cobertor vendo pelo vidro as pessoas de camiseta, em plena Palmas!
E como berram e correm pelo corredor esses terroristazinhos! Acredito que atendendo ao pedido das famigeradas mães, o motorista exibiu: “Xuxa só para baixinhos”. Realmente eles pararam de correr. Então eles apenas pulavam e gritavam tentando imitar as dancinhas. “Três patinhos foram passear...”
Um desses pequeninos, que responde pelo nome de Lucas, estava sentado duas fileiras à minha frente. Em determinado momento da longa viagem, ele ficou de pé no banco e voltou-se para trás, de forma que eu pude ver o seu sorris sapeca. Ensaiei um sorriso com o mínimo de simpatia que me restava, tentando não me contaminar pelo mau humor indiscriminadamente estabelecido no ônibus. Antes de eu terminar de esboçar o sorriso, Lucas gritou:
_ Qué? Pega!
Eu nem havia entendido o que ele havia dito quando fui surpreendido por uma bala na cara, que quase me partiu os óculos. E o pior de tudo é que a bala estava desembrulhada e caiu pelo assoalho. Não pude nem aproveitá-la. A cretina da mãe nem percebeu que o seu aprendiz de guerrilheiro estava atirando balas de morango nas pessoas
As comidas das paradas contribuem, e muito, com a disseminação do mau humor no balaio. Tenho certeza de que é feito um estudo rigoroso, minucioso e caro para escolher as piores bibocas, onde são servidas as mais terríveis comidas, para definir as paradas. Em presídios devem servir coisa melhor.
Além das comédias ridículas da MGM exibidas a bordo, a trilha sonora imposta pelo motorista (Daniel e Zezé de Camargo & Luciano), e do fedor dos milhões de pacotes de salgadinhos abertos ao mesmo tempo após as pardas, não faço idéia de como isso acontece, mas fato é que tem gente que consegue cagar no banheiro do ônibus. Às vezes tento imaginar o infeliz tentando se equilibrar, com as calças arriadas e os joelhos dobrados, e o busão a 90 km/h. recuso-me a acreditar que alguém assente-se naquilo.
Em momento algum quero desencorajá-los a fazer tal viagem. Esse relato foi escrito dentro do bus, após 32 horas de viagem. Desculpem-me o mau humor e ter dedicado todo o texto às inúmeras situações penosas, com destaque para inconveniências escatológicas. Basta a visão do Rio Araguaia para compensar todas as mazelas da empreitada.

28/08/2008

Reconvexo


Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo

Caetano Veloso

Em puta tá

'
Quando vier, seja doce e arrebatador. Não me deixe escapar e não me dê tempo de nada, nem de um suspiro. Que tudo aconteça sempre na exasperação de um último instante. Quero a vida me arrebate como o que move o dedo no gatilho, como a mão que abre a escotilha, como o músculo teso que desfere o arpão. Não me dê folga. Não espere para que eu pense. Não me deixe titubear. Não há tempo para essas coisas ínfimas que o pensamento quer me imputar. Isso não tá em mim. Em puta tá.
Ston

Faltam-me palavras Sobram-me razões



27/08/2008

Tenho andado sumido daqui. Poderia dizer que é falta de tempo e de ânimo, mas no fundo é fuga mesmo. Volto amanhã. Esse blog me desnuda.
Stonto

24/08/2008


Revi “Como água para chocolate”. Chorei tanto que, depois de evaporadas as lágrimas, recolhi mais de vinte quilos de sal.


Ston

22/08/2008

"Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.
Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.
Fui tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.
Fui tuyo, fuiste mía.
Tu serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.
Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy....
Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós."
Pablo Neruda

21/08/2008

Cantar de si


Combinei com um amigo uma brincadeira: fizemos uma lista de amigos em comum e nos propusemos apontar músicas que identificassem cada um deles. Além deles também nos incluímos na lista. Tive alguns dias para tão árdua tarefa e, como era de se esperar (ou desesperar) escolher minha música foi a mais difícil. “Certas canções que ouço/ Cabem tão dentro de mim/ Que perguntar carece/ Como não fui eu que fiz”. E mais do que certas, são tantas e várias. Pensei na inusitada Under Pressure do Queen; considerei arriscar algo meio sem noção como Bille Jean – Michael Jackson. De melancólico que sou, pensei na bucólica Minha Casa do Zeca Baleiro e cogitei, também dele, o poema redondinho Nalgum Lugar, do E. E. Cummings, primorosamente musicado. Por não ser só de letra, pensei no Trenzinho Caipira do Villa Lobos. E meus devaneios continuaram já que não sou novo nem bossa. Talvez boçal, mas o punk rock não me pega mais...
Depois de muita peleja fiquei entre três. Duas delas são brejeiras e tristes: Lamento Sertanejo e Tristeza do Jeca. Dão conta de um lado meu que se recusa a sair do fundo da grota onde foi talhado. Ao final, talvez um tanto presunçosamente, escolhi a terceira: Iolanda da dupla Buarque & Milanés. Só o fato de ser um bolero já justificaria a escolha, mas, além disso, ela fala de um amor tão inquebrantável e, paradoxalmente, cheio de fragilidades. Vejo-me assim, pelo menos hoje. “E se me faltares, nem por isso eu morro. Se é pra morrer quero morrer contigo”. E pra você? Qual é a música?
Ston

20/08/2008

A corda e a caçamba

Pablo foi expulso de casa sem menos nem mais. Pelo menos é o que ele sente. No fundo ele tem pena do pai que, em circunstância alguma, conseguirá acompanhar a evolução da humanidade. O que pode se esperar de um sujeito que não consegue lidar com e-mail e terminais bancários eletrônicos?
Por mais insólito que pareça, Pablo decidiu que iria morar numa caçamba. Não é para lá que se leva os entulhos e tudo do qual se quer ver livre? Pois bem, fiando-se na hombridade que lhe é peculiar, arrumou sua maloca na caçamba de uma esquina pouco movimentada do bairro. Nem por um segundo considerou se levaria aquilo adiante ou não. Talvez ele tivesse mesmo surtado, mas ali ficara até o amanhecer.
Pouco antes de o sol sair, passou por ali uma criatura encantadora que puxou papo com Pablo. Talvez por um misto de solidão, desassossego e medo, Pablo se agarrou a ela com uma tábua de salvação, como o último gole de gim de uma tarde de sábado. Fizeram um sexo gostoso, atrás da caçamba. Foi bom.
Gustavo pensou em construir uma vida ao lado de Pablo. Chegou a levá-lo pra casa e preparou uma receita francesa com beterraba e creme de leite. Pablo preferiu sair da cidade e do país. Foi em busca de algo que ainda não sabe. Até hoje penso nele como o moço lindo e audacioso que, expulso de casa, encontrou o amor numa caçamba. E lá o deixou.
Ston

FRED LEVA JEITO XVIII

Depois de uma viagem de férias ao Ceará, onde Fred tem um parente, o moço voltou bronzeado e com um piercing novo. Dessa vez o adereço é no rosto e não teve como se safar do alvoroço familiar. Fred conteve a calorosa discussão quando saiu com essa:
_ Da próxima vez coloco num lugar onde poucos vejam.

19/08/2008

Meu doce amigo Celi, que sempre me aplica músicas maravilhosas, apresentou-me o paulista Fênix. O moço canta com voz pueril, da forma mais delicada possível. É algo encantador. Não sei quem é o compositor da letra que segue. Não me canso de ouvi-la. É algo indescritível.
¨

MARFIM
Faz tempo faz
As tardes foram e não voltam
Um tempo atrás
Bebemos cores no sótão
Sei que você não volta mais para mim
Ainda é capaz
Daquilo que outros não tocam
Nem lembro mais
Das coisas ruins dissipadas
Quem vai rabiscar meu marfim
Oh, oh, oh, quero você de volta
Oh, oh, oh, entra, nem bate a porta
Oh, mostra que está afim
Oh, oh, oh, quero você de volta
Oh, oh, oh, entra, nem bate a porta
Oh, mostra que está afim de mim

18/08/2008


O retorno da viagem é sempre menos animado, mas dessa vez teve um gosto diferente, teve um jeito estranho de retornar pras coisas do cotidiano. Estou realmente precisando de longas férias longe de BH. Música e livros, ar livre e caminhadas demoradas: é do que estou precisando desmedidamente. A saudade de um amor específico ou da própria cama perdem-se na inevitável constatação: “meu lar é onde estão os meus sapatos”. Cada vez mais me convenço de que não posso enraizar-me nem num canto, nem na estrada... Novamente roubando dalgum poeta: “Preciso encontrar alguém que queira encontrar alguém”.
Ston
Foto: Lourenço Lobsomem - Pousada Serra Que Chora
Maristela acordou muito cedo e teve preguiça de enfrentar o frio que imperava para além do aconchego das alfaias. Sabia que a neblina circundava a casa toda, que não enxergaria nem a porteira do curral. Ainda tonta de sono começou a pensar na vidinha tacanha que vivia no sítio com Almindo. Ele já deve estar ordenhando. Sempre acordava cedo e, depois de preparar o café forte e doce, ia para o curral cuidar das vacas. Ela já não pensava em melhorar as coisas no sítio para eles terem mais conforto. Cansara-se de tentar convencer ao companheiro de que poderiam viver um pouco melhor sem gastar grande fortuna ou cometer pecado algum. Queria uma vida melhor, mas isso não pressupunha, obrigatoriamente, a companhia de Almindo.
Com certo custo, levantou-se e foi tomar o café doce do marido. O mesmo café doce de todos os dias. Viu seu reflexo no alumínio areado das panelas. Teve saudade do viço da mocidade. Era preciso ter muita coragem para envelhecer com dignidade. Não era o seu caso. Preferiria morrer a ter que continuar vivendo no sítio.
Almindo sabia que perderia a companhia da morena logo. Conhecia as coisas da natureza, e a essência humana não difere das dos bichos. A cabrocha estava triste demais e, como ave canora capturada, fica amuada, sente falta de liberdade e quer céu.
Ston

13/08/2008

Friedrich Nietzsche define a alma alemã:
Um alemão que ousasse afirmar “Duas almas, oh! Habitam em meu peito” estaria bem longe da verdade, ou melhor, ficaria muitas almas aquém da verdade. (...) A alma alemã tem corredores e veredas em si, no seu interior existem cavernas, esconsos e masmorras; sua desordem tem muito de encanto do mistério; o alemão conhece os caminhos tortuosos para o caos. E como toda coisa ama seu símile, o alemão ama as nuvens e tudo que é turvo, cambiante, crepuscular, úmido e velado: todo tipo de coisa incerta, inacabada, evasiva, em crescimento. (...) O alemão mesmo não é, ele se torna, se desenvolve.
Acho que a minha é assim.
Ston
O bom professor tratou Silvânia com cortesia e muito atenciosamente. Ele usava o mesmo perfume amadeirado de sempre. Ela, independente do interesse em biogeografia, esquecera-se completamente da aula. A voz do propedeuta foi sumindo de sua atenção e, em menos de quinze minutos, ela só pensava na saudade que sentia de sua cidade natal e de Tiago. A origem da vida perdeu-se nas lembranças da praça da igreja e do abraço caloroso que o primo lhe dera na despedida. Estranhamente tudo parecia tão distante no tempo e no espaço que Silvânia pensou ter pelo menos uns dois séculos de existência. Quando voltou a se concentrar na aula já estava no finzinho. Naquela noite foi pro ponto de ônibus incomodada com essa sensação de tempo ido, passado e com o pensamento distante. Na viagem de volta pra casa leu, na rápida passagem por um muro grafitado: Réplubique Française, teve vontade de ser madame e passear por Paris. Antes de dormir, ela se lembrou do enterro: invariavelmente, depois de coberto o caixão, sobra terra. Sempre sobra muita terra.
¨
STon

10/08/2008


Depois de um final de semana de intenso trabalho tento retomar o rumo normal da vida. Como se algo na vida tivesse rumo ou fosse normal. E antes que o cansaço me derrube, passo pra naufragar um pouco na net. “Não há nada de novo sob o sol” e ainda sinto saudade de Martinha e de um monte de coisa boa. Sinto falta dos amigos responderem mensagens e e-mails. Fico muito feliz quando isso acontece e acho um tanto absurdo tal procedimento ser tão raro. Espero que eu sobreviva a mais uma olimpíada; a mais uma semana de trabalho usando o transporte público; a mais uma tonelada de reuniões e de textos e de projetos pra escrever e que eu realmente não precise ouvir a voz do Galvão Bueno.

07/08/2008

Precisão


Passei pelo passadio
Com pressa
Precisei ir pro Pacífico
Pena que você parou
Pressuponho
Que pacífica
Foi a passagem.
¨
Ston

05/08/2008

A Bunda, que Engraçada**

Drummond
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda

**Menção honrosa em desagravo à bunda do Marcelo.