O bom professor tratou Silvânia com cortesia e muito atenciosamente. Ele usava o mesmo perfume amadeirado de sempre. Ela, independente do interesse em biogeografia, esquecera-se completamente da aula. A voz do propedeuta foi sumindo de sua atenção e, em menos de quinze minutos, ela só pensava na saudade que sentia de sua cidade natal e de Tiago. A origem da vida perdeu-se nas lembranças da praça da igreja e do abraço caloroso que o primo lhe dera na despedida. Estranhamente tudo parecia tão distante no tempo e no espaço que Silvânia pensou ter pelo menos uns dois séculos de existência. Quando voltou a se concentrar na aula já estava no finzinho. Naquela noite foi pro ponto de ônibus incomodada com essa sensação de tempo ido, passado e com o pensamento distante. Na viagem de volta pra casa leu, na rápida passagem por um muro grafitado: Réplubique Française, teve vontade de ser madame e passear por Paris. Antes de dormir, ela se lembrou do enterro: invariavelmente, depois de coberto o caixão, sobra terra. Sempre sobra muita terra.
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