Qualquer passante veria que Gilmara estava apaixonada. A expectativa da moça na janela, em plena Pirinópolis, e com o sol desmantelado da tarde, deixava absurdamente claro que tudo que seus olhos buscavam no horizonte era amor. Tudo era amor para Gilmara, mesmo que a pequena cidade não comportasse, nem de longe, toda sofreguidão que ela trazia no peito.
Salatiel, o irmão mais novo se aconchega nas coxas da moça e, num misto de choro e sono, diz:
_ Gil, você pode deitar comigo? Tô com sono.
_ Moço, tu já é rapaz! Durma só!
O moleque ignorou a repreenda da cabrocha e se pôs a puxar-lhe a saia. Gilmara, com o pensamento distante e sem nenhuma palavra foi ninar Salatiel. Se o amor passasse na estrada agora, justamente agora, a espera de duas horas teria sido em vão. Mas amanhã a negra de formas fartas voltará com a mesma expectativa. Quem sabe amanhã o amor passa?
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