Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo
Caetano Veloso
2 comentários:
Como sempre, faço os comentários nos posts errados, mas a desculpa é simples: sou besta!
ENTÃO, eu me pergunto - sobre o comentário em que vc disse "tão corriqueiro, vernáculo que é universal". Quanto aos gostos - Nietzche, Caetano, Chico, Neruda... será que não somos tão curriqueiros e vernáculos que não passamos de seres universais?
...
Ok. Dei entrevista à Band News na semana passada sobre o site e rodou desde sexta até segunda. A entrevista tá postada no site. Dá uma conferida lá.
Abraço.
Estamos cheios de unversalidade, meu caro. É algo que nos atravessa. Pego-me assim toda vez que me sinto o mais brejeiro dos seres. Verei a entrevista.
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