31/05/2009

Na correria, acabou queimando o céu da boca com o café. Percebeu isso quando já estava no táxi, a caminho do aeroporto. Tudo foi cansativo e, ao mesmo tempo, muito animador naquele dia. Nove horas e quase três mil quilômetros depois, ele estava livre de um monte de coisas e disposto a começar nova vida. Tudo, finalmente, seria realmente novo: trabalho, casa, estado, amigos. Demorou quase uma semana para os amigos e parentes receberem a notícia de que, num acidente de carro, ele havia morrido. Ninguém soube que ele havia queimado a boca com o café da padaria da esquina no mesmo dia em que morrera. “Estranho alguém ir morrer tão longe”, encasquetou Sofia.
stoN

30/05/2009

29/05/2009

O que

Aponta
Desponta
Desaponta
Importa?
stoN

28/05/2009


Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca idéias.
Neruda

27/05/2009

Essa semana, ganhei uma cachaça de Diamantina, ainda não provei. Parece boa, cheira bem. Meu respeito pelos amigos aumenta depois que eles me dão cachaça de presente. Só os melhores amigos me presenteiam assim e fazem dissolver em mim espessas camadas de culpa por apreciar tanto a marvada. Não sei se é o fato de me darem o presente ou se é a boa pinga que faz esse trabalho de erosão, mas sinto-me mais leve. Com a culpa erodida.
stoN

26/05/2009

Alma

Alma/ Deixa eu ver sua alma/ A epiderme da alma/ Superfície!/ Alma!/ Deixa eu tocar sua alma/ Com a superfície da palma/ Da minha mão/ Superfície!...
Easy! Fique bem easy/ Fique sem, nem razão/ Da superfície!/ Livre! Fique sim, livre/ Fique bem, com razão ou não/ Aterrize!...
Alma!/ Isso do medo se acalma/ Isso de sede se aplaca/ Todo pesar não existe/ Alma!/ Como um reflexo na água/ Sobre a última camada/ Que fica na/ Superfície!...
Crise!/ Já acabou, livre/ Já passou o meu temor/ Do seu medo sem motivo/ Riso, de manhã, riso/ De neném a água já molhou/ A superfície!...
Alma!/ Daqui do lado de fora/ Nenhuma forma de trauma/ Sobrevive!/ Abra a sua válvula agora/ A sua cápsula alma/ Flutua na/ Superfície!...
Lisa, que me alisa/ Seu suor, o sal que sai do sol/ Da superfície!

Simples, devagar, simples/ Bem de leve/ A alma já pousou/ Na superfície!...

in: Alma by Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes

Ao Menino Deus, irmigo de ALMA

24/05/2009

Vão de amar

Poucas coisas ainda me são valiosas. A vida continua desenhando contornos diáfanos em mim e no meu destino. O trabalho, o sexo, o estudo e a saudade que sinto de quase tudo seguem me empurrando para um lugar que não sei qual é e nem se o desejo. Ainda te amo.
stoN

21/05/2009

BSB

Alziro tem alzheimer
Perdeu-se
Foi encontrado vagando
Na Esplanada dos Ministérios
Nem tudo é planejado
stoN

18/05/2009

Ontem revi o último capítulo de “Anos Incríveis” e mais uma vez fiquei triste. Kevin Arnold não se casa com Winnie Cooper e a poética história do cara termina poeticamente real, como tudo na vida insiste em ser. Aí me vem a pergunta que Marcelo me fez outro dia: mas de qual realidade estamos falando? Realmente é uma boa pergunta.
stoN

17/05/2009

A aula estava chata, Manuela não se sentia à vontade com os colegas de classe. Muito menos com o professor e com o curso. Ela se questiona se alguma vez esteve à vontade diante da vida. Saiu do campus quando ainda havia luz no quase frio fim de tarde de outono. Sentia-se estranhamente dividida e com vontade de mudança: Pintar o cabelo, morar em outro bairro ou desistir da arquitetura. Qualquer coisa seria melhor do que continuar do mesmo jeito. Manuela chegou em casa e colocou água para um chá. Ajudaria a descansar. Passou a noite toda pensando no que e em como ela mudaria. O cansaço fez com que caísse logo em profundo sono. No dia seguinte, quando deu por si, já estava no escritório se preparando para mais um dia de trabalho. Nada mudou. Nem mesmo marcara hora no cabeleireiro.
stoN

16/05/2009

13/05/2009

seu beijo

Atirei-me sobre o seu corpo languidamente estendido na cama e com sofreguidão tomei sua boca entreaberta. Busquei sua língua como se minha fosse, querendo trazê-la a mim e oferecendo a minha em troca. Não houve tempo, nem vontade, tampouco motivo para interromper a o pretexto do desejo, ainda que aquela trepada representasse um insólito retrocesso no que nós dois havíamos conquistado em respeito e em amor próprio. Foi bom. Apaguei seu número de minha agenda e ele nunca mais me ligou. Às vezes, ainda tenho saudade do jeito estranho com que ele se mostrava interessado em me beijar.
stoN

12/05/2009

Hoje faço 36 anos.
Acordei
com muita saudade de mim.
stoN

07/05/2009

com H

Estava de batom e com os cabelos presos. Percebi que tudo aquilo era importante para ela. Admirá-la passou para um patamar mais sólido. Pareceu-me um tanto frágil e substancialmente devotada. O seu olhar chegou perto de me emocionar, me enternecer. Tive medo...
stoN

03/05/2009

A poesia escondida

Preparando-me para a aula de amanhã, enquanto enfrento uma gripe brutal (tomara que não seja suína!), deparo-me com o seguinte trecho: “Para entender a dialética das dimensões exógenas e endógenas dos processos de crescimento¹ e de desenvolvimento é preciso ter presente que a globalização se produz efetivamente em um único espaço (transnacional), mas por meio de múltiplos territórios (subnacionais).” ²
Fico boquiaberto como é poético...
Agora me respondam: a Geografia não é apaixonante?
stoN
¹Grifos do autor
²GUIMARÃES. R. P. A ética da sustentabilidade e a formulação de políticas de desenvolvimento. In: Viana, Silva e Diniz, 2001

A espera de um filósofo

Tomei um capuccino italiano no tempo suficiente de uma espera. Tocava jazz e, para além do entra e sai de gente metida à besta na cafeteria, sobrava expectativa de saber um pouco mais de ti. Assaltou-me uma saudade, um tanto descabida, de um tanto de coisas não vividas e sentidas. Deve ser mais uma manifestação esdrúxula de “nostalgia da modernidade”.
stoN

02/05/2009

01/05/2009

MARÉ BAIXA 09

Depois de alguns meses e vários programas, os dois já possuem o que pode se chamar de amizade. No último sábado, um dia morno e um tanto triste, Miguel e Arlete foram levar João Victor ao parque. Havia muito tempo que Miguel não sentia tão feliz. Era a tarde perfeita de uma família feliz a passear na melhor cidade do mundo. Nada poderia afetar sua poliânica felicidade. Na volta para casa passou por um bar e se encontrou com uns amigos. Não teve coragem de comentar sobre o seu novo relacionamento, pois, por certo, havia algo diferente entre ele e Arlete, uma coisa além da trivial relação com uma prostituta. Isso era claro para ele: eles tinham algo. Foi pra casa feliz, cansado e bêbado. Dormiu pensando em sair da livraria e que ele gostaria de ser o pai daquele menino.
stoN
Foto: Jean Wyllys