28/04/2009

Jura

Me ame hoje
ligue amanhã
e mande flores quando fizer um ano.
stoN

26/04/2009

MARÉ BAIXA 08

Miguel anda encafifado: Como pode uma lésbica ser prostituta? Ele duvida da orientação sexual de Arlete e considera que ela gostou foi muito das três vezes que eles treparam. Chegaram a conversar algumas amenidades, mas não teve coragem de perguntá-la sobre o tema. Pensa nela o dia todo e já comprou um presente. Não sabe se terá coragem de entregá-lo à moça. Pensou em também comprar um livro para João Victor. Será que esse moleque gosta de livros? O universo de Miguel está circunscrito entre a livraria, sua casa e a esquina de Arlete. Difícil pensar em outro presente que não fosse do seu trabalho. Da última vez que transaram, Arlete lhe pareceu distante e triste. Miguel tem pena e vontade de lhe oferecer o mundo, mas ele não o tem. Só se oferece o que se tem, pondera o rapaz e tenta se consolar pensando que um dia ele o tenha. Enquanto isso ela terá que se contentar com um livro, mas um dia...
stoN

25/04/2009

Para Raskólhnikov começou então uma época estranha, era como se uma bruma tivesse se erguido de repente diante dele, envolvendo-o numa solidão irrespirável e densa. Ao lembrar mais tarde esse tempo, percebeu como sua consciência estava escurecida, e como esse estado se prolongou, com leves intervalos, até que sobreveio a catástrofe definitiva. Estava firmemente convencido de que se enganara com em muitos pontos, por exemplo, na data e na duração de certos acontecimentos. (...) De maneira geral, naqueles últimos dias se esforçara para se convencer de que compreendia clara e plenamente a sua situação; certos fatos vulgares que necessitavam de uma elucidação imediata lhe causavam uma preocupação especial, mas, como ficaria contente se pudesse se libertar e evitar algumas preocupações cujo esquecimento, aliás, na sua situação, seria uma ameaça de realizada e irreparável rotina.
Dostoiévski in: Crime e castigo.

23/04/2009

Drágeas

duvido
da Vida
vi dor
em vidros
stoN

22/04/2009

MARÉ BAIXA 07

Pela primeira vez nosso herói conseguiu abordar Arlete e, ousado como nunca, combinou o programa. Ela estava receosa, já tinha botado reparo no rapaz e tava cismada com aquela postura. De início achou que fosse traficante novato, mas depois viu que ele só ficava observando. Pensou: É um pervertido novato, então. Miguel achou a trepada maravilhosa. Ela era melhor do que ele esperava. Era perfeita, carinhosa, bonita demais, e tinha aquele jeito de olhar pro lado que o deixou louco. Ele foi muito intenso o que reforçou a idéia de que ele era meio psicopata na cabeça dela. Teve vontade de pedi-la em casamento naquela mesma noite, ou pelo menos para dormir na cama dela até o dia clarear. Não teve coragem.
stoN

21/04/2009

E a estrada é de terra...

Deixai aqui todas as esperanças, ó vós que entrais”¹. Agora vejo que era isso que estava escrito no portal de entrada do feriadão. Foi tão conturbado e cheio de “choro e ranger de dentes”² que até achei que já fosse o juízo final. Todavia não o era. O pior é que nunca o é. Se o fosse (expressão típica de um ensaísta amigo meu) seria melhor. Agora, juntando cacos, a caravana continua, a despeito do ladrar dos cães e os mais sabidos juram que é no andar da carruagem que as abóboras se ajeitam. Ainda bem que (pra abusar das citações): "Quem tem amigos está mais perto de ter Deus"³ e foi o que me salvou. Duvido que Deus exista, mas amigos, com certeza, existem.
stoN

¹Dante Alighieri, in: Divina Comédia – Inferno
²Evangelho de Mateus, capítulo 13, versículo 42
³Grupo de Teatro Ponto de Partida - Barbacena-MG

19/04/2009

Mais uma sacadíssma do Laerte

Clique na imagem. É pra ler melhor, Chapeuzinho...

Vamos Fazer um Filme

Achei um 3x4 teu e não quis acreditar/ Que tinha sido há tanto tempo atrás/ Um bom exemplo de bondade e respeito/ Do que o verdadeiro amor é capaz/ A minha escola não tem personagem/ A minha escola tem gente de verdade/ Alguém falou do fim-do-mundo, O fim-do-mundo já passou/ Vamos começar de novo: Um por todos, todos por um/ O sistema é mau, mas minha turma é legal/ Viver é foda, morrer é difícil/ Te ver é uma necessidade/ Vamos fazer um filme/ E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."? Sem essa de que: "Estou sozinho."/ Somos muito mais que isso/ Somos pingüim, somos golfinho/ Homem, sereia e beija-flor/ Leão, leoa e leão-marinho/ Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito/ Chega de opressão: Quero viver a minha vida em paz/ Quero um milhão de amigos/ Quero irmãos e irmãs/ Deve de ser cisma minha/ Mas a única maneira ainda/ De imaginar a minha vida/ É vê-la como um musical dos anos trinta/ E no meio de uma depressão/ Te ver e ter beleza e fantasia./ E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."? E hoje em dia, vamos Fazer um filme/ Eu te amo/ Eu te amo/ Eu te amo.
Renato Russo

16/04/2009

09/04/2009

MARÉ BAIXA 06

Arlete acordou cedo, numa ressaca incomensurável e foi levar João Victor à escola. Na volta o mesmo ritual: padaria, sacolão e uma passadinha e banca de revista para comprar cigarros. É uma mulher forte, desencanada e safo. A vida na rua ajuda a deixar as pessoas espertas. Depois do cigarro e do café com pão, voltou pra cama para dormir até a hora de buscar o moleque na escola e ajeitar um pouco a casa. Pensou em como seria bom ter uma companheira com quem pudesse dividir as coisas. Às vezes criar João Victor sozinho lhe era pesado demais. Sentiu-se só e adormeceu mesmo com o barulho da rua.
stoN

05/04/2009

Pequenas bobagens
ou
Aquele que trata da cretinice com parcimônia

Quando ainda havia paixão era mais fácil passar por cima do seu egoísmo exacerbado. Amainado o furor da querência, nem a pose clichê, que tinha certo charme outrora, faz sentido ou graça agora. Era uma pequena bobagem, só isso. O que ressalta ainda em ti, única e tão somente, é mesmo a postura interesseira e aproveitadora, tentando sugar um pouco, por mínimo que seja, do que a situação ainda pode oferecer de benefício pessoal. É puro vampirismo. E é pouco, muito pouco.
As máscaras vão caindo uma a uma, sobrando um monte de mentiras toscas, doentias e descaradas. Hodierno é tão costumeiro você se fazer de sonso que me enfaro de indolência. Era uma pequena bobagem. E eu, roto e desfigurado, insatisfeito no meu não menos egocêntrico território salpicado de defeitos cintilantes, consigo, ao menos, me cercar de temperos e novidades de alcova. Murado de rancor, vergonha e arrependimento de um dia ter posto as vistas em ti, tenho pelo menos o quinhão de minha culpa: fui negligente diante de suas irrefutáveis e recorrentes demonstrações de mau-caratismo.
stoN

Se chovesse você

"Se você fosse lua/ Dormiria contigo na praia/ Entraria contigo no mar/Choraria o teu minguante/ Seguiria o teu crescente/ Habitaria teu luar/ Se você fosse sol/ Eu seria girassol/ Tua luz seria meu farol/ Amaria teu calor/ O teu fogo abrasador/ Queimaria por amor/ Se você fosse vento/ Queria você todo momento/ Pra enrolar meu cabelo/ Levantar a minha blusa/ Arrancar-me um suspiro/ Ser o ar que eu respiro/ Se você fosse chuva/ Eu me deixava molhar de prazer/ Dançava na rua pra ter/ Minha roupa bem molhada/ Minha alma encharcada/ Se chovesse você."
Adonay Pereira, Eliana Printes & Eliakin Rufino

04/04/2009

MARÉ BAIXA 05

A infância de Miguel foi o que se pode chamar de uma meninice normal. Fazia tudo que os outros moleques faziam. Lembrou-se de Ana, sua primeira paixão, menina linda da sexta série que tinha perfume muito bom. Vai ver era do xampu que ela usava. O primeiro carrinho de controle remoto dado pelo tio. Lembranças faziam a tarde parecer mais leve. Sempre que não tinha nada pra fazer, Miguel gastava horas recordando essas coisas, buscando detalhes, chafurdando a memória o máximo possível. Atualmente ele não tem tido tempo para isso. A lembrança do sorriso de Arlete consome todo o tempo livre. E o que não é livre também. Às vezes ele teme estar obcecado.
stoN

03/04/2009


02/04/2009

MARÉ BAIXA 04

Acordou sentindo-se como se não tivesse dormido nem cinco minutos. No banho, Miguel tenta recapitular a noite: horas e mais horas no bar, observando Arlete de longe, cinco doses de rum, duas cervejas, três cachaças e uma dose de vodca da pior espécie. A cabeça parecia não ser dele, pesava muito sobre o pescoço. Na saída pro trabalho, cerca de quarenta minutos depois, teve um medo grande da morte. Medo de morrer da forma mais besta possível. Engasgado com um osso de galinha, ataque do coração catalisado por um choque elétrico, um descuido e já está o crânio estourado no asfalto. Basta um vacilo.
Já na livraria teve que se fazer de forte, vencer o cansaço e a ressaca para dar conta do trabalho. Todavia não se podia dizer que estava infeliz. Pensou no sorriso de Arlete e teve vontade de viver muito mais ainda. Espantou o medo da morte e já era quase hora de bater o cartão. Perguntou a si mesmo se agüentaria mais uma noite de vigília. Não se respondeu.
stoN

Visagem IV

A tristeza dela
É por causa da paixão dele
Eu sou psicopata
E não sei o nome deles.
stoN

01/04/2009

Visagem III

O bonito conversou
Com a menina dos olhos tristes
Ele deve saber o nome dela
Será que ele também sabe o meu nome?
stoN