31/01/2008


O melhor dos amigos: eles te conhecem bem.
O pior dos amigos: eles te conhecem bem.

Pergunta inevitável ao te ver passar

Quantas camas rangeram sob seu corpo?
Esse seu corpo pesado de libido e de desejo.

29/01/2008

Coloquei minha vida em suas mãos
Você olhou
Remexeu
Pediu explicações
Eu não as tinha
Você olhou-me incisivamente
A devolveu remexida
E eu não tive onde guardá-la novamente

Parêntese

comunidade
comum idade
com imunidade
com imunda idade
comuna piedade

28/01/2008

Manchetes chocantes

Estanho no Ninho.
Análise laboratorial em amostras de famosa marca de leite em pó confirma forte contaminação por metal pesado.



27/01/2008

Costas dos anjos

Desde criança (o que já tem algum tempo) ouço dizer que anjo não tem costas. Tirei essas fotos que são provas cabais das costas dos alados seres. E alguns tem até cofrinho. Será que só os anjos de cemitérios tem costas?

25/01/2008

Mensagem ao combalido Gatomário (Ou dois perdidos numa vida suja)

Inventei de inventar um amor
Mais um doloroso aborto
Abandono e inquietação
Vou tomar uma vódica
Mas só dói se respiro.

24/01/2008

Espeliotemas

Tomo Terceiro
I

08:09; Você está atrasado! 09:43; absorvente com gel, dipirona, Vende só uma cartela? Tilenol, chocolate dietético, sal de frutas, Na loja da esquina, descongestionante nasal, salgadinho, cartão telefônico. 12:10 Pastel de camarão e suco de caju. Fabiano pensou que deus, caso ele exista, deveria ser minimamente generoso e lhe garantir uma morte prematura e indolor. Resolveu procurar Pedro depois do expediente.

13:00; pastilhas dietéticas, ataduras, sabonete de glicerina, lenços de papel, prosac, fixador de tintura. 17:58 Fabiano já atravessa a rua. Ainda não sabia se levaria adiante a idéia de ligar para Pedro. Decisões deveriam ser vendidas em drágeas, como tantas outras coisas complicadas. E se não fossem legalizadas ele poderia até traficá-las.

Stones no último volume. No banho percebeu o quanto o estômago doía. Preciso procurar um médico, ir ao dentista, lavar aquele tênis vermelho, ligar para mãe. A única coisa que poderia fazer com dignidade naquele momento era ensaboar com gosto a cabeça. Assim o fez.

Quando saiu do banho viu que o telefone havia tocado muitas vezes e ele não ouvira. Era Pedro.
de quase e tudo
um pouco sempre resta
para disposição nenhuma
um oi já é mais que nada

O céu tá preto!

*



23/01/2008

Ele se levantou e foi até a janela.
- Os vizinhos devem pensar que sou um puto [puxando a cortina].
- E não é?
- Posso ser, mas eles não precisam ficar sabendo.

Um pouco de Mario Teixeira ou "Gatomário"

Cadê ela?
Cadê ela?!
Cá, choro.
Cadela!

Um pouco de John Donne (no vernáculo fica melhor)

BREAK OF DAY

Stay, O sweet, and do not rise;
The light that shines comes from thine eyes;
The day breaks not, it is my heart,
Because that you and I must part.
Stay, or else my joys will die,
And perish in their infancy.
Hoje vai chover de novo, por certo. Terei um dia paspalho como todos os outros basbaques dias. Exceto, é claro, se cair um meteorito na Praça da Liberdade como naquele vídeo do you tube. Seria ótimo ver o povo em polvorosa geral e a Fátima Bernardes com cara de consternação (com uma puta satisfação mal dissimulada). Será que o Aecinho, assustado, apareceria na sacada do Palácio? Melhor não contar com apocalípticos devaneios para uma quarta feira tão insossa.

22/01/2008


Há dias que quando acordo não me vem, de chofre, um “puta-que-pariu” à cabeça. Phoda é que ele foi substituído por uma saudade, pela falta que você me faz.

21/01/2008

Tenho visto muita coisa estranha esses dias. Pessoas, cores e mil outras coisas que eu e Adriana não sabemos o nome. E não é só coisa de Almodovar e de Frida Kahlo. Visitem-me no Galba e levem-me macias e doces peras. Levem também iogurte natural com mel, cenoura e laranja.

Mais do óbvio

Coala australiano. Festa americana. Geopolítica alemã. Fauna brasileira. Política inglesa. Restaurante francês. Cinema italiano. Sombreiro mexicano. Tango argentino. Banho turco. Galinha angolana. Vaca holandesa. Mulata brasileira. Vinho alemão. Imperialismo americano. Roque inglês. Surfe havaiano. Musica francesa. Sapatos italianos. Petróleo iraquiano. Rum cubano. Chá indiano. Alpes suíços. Terrorismo irlandês. Vodca russa. Blues americano. Futebol brasileiro. Filosofia alemã. Cocaína boliviana. Batata inglesa. Geografia francesa. Basquete americano. Bang-bang italiano. Muralha chinesa. Mitologia grega. Inverno chileno. Hino marroquino. Pimenta mexicana. Papa polonês. Soco inglês. Tourada espanhola. Xenofobia alemã. Gaita escocesa. Jeitinho brasileiro. Sanduíche americano. Dança coreana. Resistência francesa. Queijo suíço. Pornografia sueca. Massa italiana. Cinema iraniano. Guerrilha colombiana. Propaganda brasileira. Chave inglesa. Escravos angolanos. Teatro japonês. Chocolate suíço. Cerveja alemã. Muamba paraguaia. Uísque escocês. Mármore italiano. Tequila mexicana. Valsa austríaca. Cão dinamarquês. Lombinho canadense. Literatura russa. Relógio suíço. Racismo americano. Samba brasileiro. Comida chinesa. Charuto cubano. Pão árabe. Azeite português. Bolo inglês. Gravata italiana. Tambores africanos. Beleza grega. Canguru australiano. Bacalhau norueguês. Jazz americano. Salsicha alemã. Carnaval brasileiro. Panda chinês. Tecnologia japonesa. Canário belga. Regue jamaicano. Peito americano. Bunda brasileira. Cultura global. Poema global.
stoN

20/01/2008

Errata

Doce amiga avisou-me de "visinhos" estranhos no blog. Achei três. Gente, gente!!! Espero que os outros vizinhos não tenham visto... Deus é mais!!!
Saudade é uma dor doce, terna e justa

19/01/2008

Procurei um cigarro de palha e achei um Dorflex. Ligarei para um amigo, quem sabe ele não quer tomar uma cerveja? Que diabos deram nesse cachorro pra ele ficar latindo desse jeito? Vizinho bom é vizinho morto!
Achei que faltava cor por aqui...

18/01/2008

Para além da Cajuína e da existência

Recebi de um homenino lindo, em vez da rosa, um poema. Também me deu olhares de violeiro que nem a matéria vida chega a ser tão fina.
Turva-me a lágrima e da mesma forma que Veloso, ambos não sabemos os desmandos da existência. Não conhecemos Teresina e nunca tomamos caujuína.

17/01/2008

Como disse Chico, “eu bem que tenho ensaiado um progresso”, pelo menos tenho acreditado nisso o que já é um progresso. A ilusão do avanço, já é consoladora. E que não venha ninguém me dizer que viver de ilusão é tolice. Bestagem é viver de realidade que de bom tem pouco, ou quase nada. E qual realidade pode-se levar em conta? A dos jornais televisivos que só tem desgraça ou a das câmeras escondidas? A realidade do msn, dos chats e do orkut onde todo mundo é eficiente, bonito, fala línguas, goza gostoso e toca jazz no sax? Verdades não faltam. Bom mesmo é acreditar em algo, mesmo que seja pura pseudofilosofança de beira de balcão.
"Esqueço que sou um poeta, que não estou sozinho, preciso aceitar e compor, minhas medidas partiram-se, mas preciso, preciso, preciso."
Drummond

Obtenção de renda by Kim Joon


16/01/2008

"Volta pra casa...
me traz na bagagem:
tua viagem sou eu
Novas paisagens, destino, passagem:
tua tatuagem sou eu"
H. Gessinger

15/01/2008

Espeliotemas

Tomo Segundo
IV


Fabiano recusou o convite de Pedro de assistirem ao show de uma banda juntos. Preferiu ir ao Gárgula: mais do mesmo. Sentiu-se tentado a ligar para Alencar, mas em seguida desistiu do intento. O cretino deve estar ocupado com suas escolhas precisas e irritantes. Fabiano detestava o jeito metódico e analítico do amigo. As pessoas com as quais convivemos são boas pra nos mostrar do que realmente não gostamos. Em nós e nelas.

A música estava boa, a cerveja estava gelada e o povo estava bacana. Fabiano só pensava em como não enlouquecer. Agora estava claro: estava em franco processo de enlouquecimento. Não havia como fugir de realidade tão alarmante. Sempre soube de gente que usou substâncias e que nunca voltaram a ser o que eram. Seria esse o seu caso? Decididamente não buscaria terapia. Psicólogos, pedreiros e pessoas que dão manutenção em computador não são de confiança. Precisava era de uma nova paixão. Fulminante, desesperada. Uma daquelas que tiram o fôlego e te fazem cometer verdadeiras loucuras.

Puta que pariu! Acordou no dia seguinte com a cabeça estourando. Ninguém ao lado na cama. Menos mal. Depois de recobrar minimamente a condição humana, Fabiano resolve comer algo. 17:20 – Bar da esquina: Coca Cola com pastel de queijo. O estômago, por certo, não resistirá até os quarenta. Pelo menos não inteiro. Passa-lhe pela cabeça retornar à cidade natal, passar uns dias com a família, purificar um pouco. Roça: nada de poluição, boteco e remedinhos. A típica vontade de retorno ao colo materno...
Faltam-me palavras
Sobram-me razões

Há um hipopótamo na porta da frente
Eu não sei onde coloquei os meus óculos

14/01/2008






Oldack Esteves
Vidinha cínica nos supermercados da vida. Comprar todo mês o quinhão sagrado que nos mantêm de pé e minimamente limpos, cientes de pertencer ao seleto grupo dos que consomem. Mensalmente, sacando meu cartão de débito, comprovo que tenho poder de compra, que também alimento, além dos bolsos dos supermercadistas, as estatísticas do IPC.



Devorado que fui, não consigo escrever nada... absolutamente nada...

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto

12/01/2008

Manhã de sábado




Todo Sentimento

Chico Buarque e C. Bastos

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Há um vazio que nada, ninguém ou coisa alguma preenche.
É o oco do medo da chuva, do frio da madrugada...
É o vão do desejo.
Desejo de tudo e de todos.
Peso- morto da falta, da carência...
do medo da morte
do desejo...
O buraco negro do desejo mora em mim....

11/01/2008

Daya, Docinho e Kika


A primeira me amanhece
Canta pra eu sorrir
E é sempre um adorável encontro
Loucura adocicada
Uma menina suave que me leva às nuvens
Com mojito e enormes mangas maduras
Ela me lambe fraternalmente

A segunda conhece minha alma
É pura paixão raivosa
Fêmea defendendo território
Companheira
Gargalha com a vida
Boca que só pede beijo
Ela me morde e me devoraria

A que atravessou o Atlântico
É fúria e folia
Desesperadamente tranqüila
Extremosa
Me leva pra noite
Qualquer desbunde é pouco
Mulher dragão
Me enfeitiça com arroz com pequi
Ela me beija

10/01/2008

Escher


Descobri a fórmula da felicidade. Em inícios de milênios tumultuados como este, só a tríade-mais-que-perfeita me salva do suicídio (moral, ético, tétrico, poético): secador, maçã e lente. Eh! Vida à toa...

E isso não é poético?

¨
"Matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distânicas. "
Isaac Newton

09/01/2008

Uma seta para si e para cima

so
saio
saurio
saudário
saudamário
saudadomário
saudadedomário
saudade do mário
ss
saus
saueus
sauddeus
saudaodeus
saudanodeus
saudadinodeus
saudadeninodeus
saudadedeninodeus
saudadedomeninodeus
saudade do menino deus

08/01/2008

Tenho saudade. Tenho medo de Fortaleza. Baixei uma foto do Sebastião Salgado de uma casa de chá cheia de orientais. Tenho cansaço de férias e uma Ciranda da Bailarina. Tenho mil coisas pra dividir contigo e com quem mais quiser, mas é preciso, como à esfinge, me decifrar primeiro. Eu tenho um enigma que é maior do que eu. Eu sou "deus dos sem deuses, deus dos ateus, deus do céu sem deus". Tenho msn e orkut. Tenho um vizinho filho da puta que ouve Calcinha Preta no talo. Eu tenho saudade de você.

Saudade equatorial

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Doce amiga que veio do Pará trouxe-me notícias da luta do povo, do cenário político, das lindezas de Xinguara e muita saudade. Tive uma vontade enorme de voltar a viver em baixas latitudes. Parafraseando o poeta: Quanto mais perto do Equador, tanto mais perto do céu.

07/01/2008

Volta e ida

Se eu amasse Ana seria melhor.
Eu preciso amar um palíndromo.

06/01/2008

Propaganda da Jontex voltada para público gay

Um pouco de Dostoiévski

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Por que há noites inteiras em que ele passa mergulhado em inesgotável alegria e venturosa satisfação, sem pensar em dormir, senão por um breve instante? E quando a amanhã torna a brilhar com matizes de rosa nos cristais da janela e os primeiros fulgores do dia penetram com sua luz indecisa e vaga no aposento, e o nosso sonhador, rendido e esgotado, se estende no leito e fica adormecido, por que tem então a sensação quase de morrer de pura felicidade, com todo o seu espírito morbidamente comovido, e com tudo isto, uma dor tão docemente penosa no coração? Sim, Nastenka; assim nos enganamos, e como estranhos cremos involuntariamente que uma paixão verdadeira, corporal, comove nossa alma. Involuntariamente cremos que em nossos incorpóreos sonhos há algo de vivo e palpável.

In: Noites Brancas
Ontem acordei disposto a resolver minha vida amorosa. Tomei café solúvel, li e-mails e vi tv. Voltei pra cama e passei o dia vendo filmes. Até Indochina me salvou. Catherine Deneuve ainda me emociona numa produção de 1992: "Não há nada de novo sob o sol"... Fui dormir tarde, cansado de não fazer nada e com a vida amorosa na mesma merda. Acho que vou estudar teatro. Antes vou tomar mais um café

05/01/2008

De Novas Lavras aos caminhos das minas

no inverso carinho

a verdade na pele

o ano começa

na poeira, na cachoeira, no buteco.

Ouro Preto não é mais do que um poema no bolso da minha bermuda.

03/01/2008

“Quando eu fiz quinze anos, ganhei um relógio de pulso e 5 mil réis. Olhei os ponteiros, vi que era hora de fazer uma besteira e entrei num botequim".
Antônio Maria
Tudo junto
Separado

Pormenores
Por menores

A tal Diana
A tal de Ana

Escola
Ex- cola
Escolha

É de se esperar
É desesperar

Forma de gestão
Forma digestão

Veracidade
Ver a cidade

Verificar
Ver e ficar

02/01/2008

Nas melhores lojas do ramo 04

¨


Rita Ribeiro: Pérolas aos povos

Espeliotemas

Tomo Segundo
III

Você exagerou na bebida e nas drogas, disse o médico antes de liberá-lo. Fabiano teve raiva da cara de pai consciencioso do infeliz. Indelicadezas, bem colocadas e sinceras, são infinitamente melhores do que um ar superior de responsabilidade e pseudo-cortesia burocrática. Tudo que ele queria era voltar pra vidinha medíocre da farmácia. Será que eles o aceitariam de volta? Faltou dois dias sem a mínima satisfação. Estava confuso. O médico dissera que havia ficado 36 horas desacordado. A dificuldade em lembrar o que aconteceu é o que mais o preocupa. E se ele tiver feito sua inscrição para a Legião Estrangeira ou feito um pacto de sangue e morte com aquele tal de Pedro? Que figura esquisita! O cara insiste em ser gentil com ele. Algo, definitivamente está errado.

Passa em casa para um banho. O estômago ainda dói. Nada na geladeira. Dois pasteis e chá gelado na padaria da esquina. Escritório do Genival. O cara gerencia uma franquia de drogaria e tem esse nome. Fabiano espera que esse não seja um modelo de felicidade masculina no mundo moderno. O gerente sempre foi honesto e justo com os funcionários, todavia sempre enérgico. Não poupou palavras com nosso homem. Era sua última chance.

11:15. Dipirona; tarja vermelha; engov; sal de frutas; Tem em cápsulas? Descarregar absorventes e fraldas. 12:00. Não tem hora de almoço: chegou tarde demais. 15:18. Muito cansaço; Telefonema da mãe; dor nas pernas; Viagra; barras de cereal; 250 ml; enxaguante bucal; fio dental; retardo mental... 18:30. Finalmente a liberdade temporária.

Confere se o celular está no bolso e vai direto pra casa. Tudo que precisa é descansar e não pensar em nada. Janis, exasperada, no som. Deitado na cama confere os últimos registros do celular. Alguém o havia chamado reiteradas vezes. Não conhecia o número.
- Alô.
- Quem fala?
- O dono do aparelho pro qual você ligou.
- Desculpe você me ligou e não tenho seu número gravado...
- É você, Fabiano? Aqui é o Pedro.
*[Inferno!!! O que esse cara quer? O que eu quero???]*

01/01/2008


Virada

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Virou o ano. Segunda virou terça, sete virou oito, Benazir virou cadáver. Dizem também que Alfredo virou a mão e que tem gente que é vira-folha. Sonho virou realidade e realidade virou pesadelo. Kid Abelha virou só Kid; Jackson virou branco e tantos outros viraram pro canto na cama (sua ou alheia). É uma viração.
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Eu passei a virada com um grupo muito bacana de amigos. Foi uma noitada feliz, animada e virada. Teve bêbados correndo pelados em volta da piscina e uma preá que assombrou meio mundo de gente, deixando outro tanto sem dormir. Era uma preá virada.