06/01/2008

Um pouco de Dostoiévski

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Por que há noites inteiras em que ele passa mergulhado em inesgotável alegria e venturosa satisfação, sem pensar em dormir, senão por um breve instante? E quando a amanhã torna a brilhar com matizes de rosa nos cristais da janela e os primeiros fulgores do dia penetram com sua luz indecisa e vaga no aposento, e o nosso sonhador, rendido e esgotado, se estende no leito e fica adormecido, por que tem então a sensação quase de morrer de pura felicidade, com todo o seu espírito morbidamente comovido, e com tudo isto, uma dor tão docemente penosa no coração? Sim, Nastenka; assim nos enganamos, e como estranhos cremos involuntariamente que uma paixão verdadeira, corporal, comove nossa alma. Involuntariamente cremos que em nossos incorpóreos sonhos há algo de vivo e palpável.

In: Noites Brancas

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