30/03/2008

Cura para a ultraviolência

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Quando jogou o cabelo para trás do ombro direito e ajeitou o decote da blusa azul, tentando passar segurança, tive certeza que nunca iria contratar os serviços dela. Mesmo que fossem tão bons quanto ela se esforçava enormemente, e o tempo todo, em demonstrar.
Passei o resto do dia preocupado em acordar muito cedo no dia seguinte, em ter que ir ao médico e enfrentar bisturi. Tentei desviar meu pensamento, pensar em coisas mais interessantes. Comecei a vasculhar registros mentais: Onde foi que vi pela última vez a carta altimétrica de Ponte Nova? Quem foi que me ligou de madrugada? Como eram deliciosos os cajus do sul do Pará...
Decidi não sair na sexta, na certeza de que o álcool não me faria bem. Depois desdecidi e saí. Foi ótimo. Precisava mesmo de distração para as minhas inquietações. Acordei o mais disposto dos homens no sábado, mesmo tendo chegado as três e tanto da matina em casa. Aproveitei um bom churrasco depois de uma bela manhã de um bom trabalho e encerrei com um delicioso show gratuito do Milton Nascimento e um tradicional e tranqüilo butequinho em Santê. Uma excelente e adjetivada programação, pra um bom fim de mês, no meu fim de carreira, em pleno fim do mundo...

27/03/2008

BRISA

Manoel Bandeira


Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avo, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.

No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:Vamos viver de brisa, Anarina.

24/03/2008

Tríades mais-que-perfeitas



Pai, mãe e filho. Eu, tu e eles. Conhecidos, colegas e amigos. Eu, você e outro. Cidade, estado e país. Clero, nobreza e burguesia. Senador, deputado e vereador. Presidente, governador e prefeito. Legislativo, Executivo e Judiciário.
Pai, filho e espírito santo. Jesus, Maria e José. Céu, inferno e purgatório. Belchior, Baltazar e Gaspar.
Passado, presente e futuro. Início, meio e fim. Manhã, tarde e noite. Nascimento, vida e morte. Hoje, ontem e amanhã.
Fome, sede e frio. Terra, céu e mar. Real, imaginário e simbólico. Brancos, negros e índios. Masculino, feminino e plural. Estética, ética e razão. Id, ego e superego.
Marx, Weber e Durkhein. Título, escala e orientação. Prótons, nêutrons e elétrons. Seno, co-seno e tangente. Tese, antítese e síntese. Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Introdução, desenvolvimento e conclusão. Cérebro, cerebelo e bulbo. Cabeça, tronco e membros. Índico, Pacífico e Atlântico. Brasil, Argentina e Paraguai. Arroz, feijão e macarrão. Mostarda, maionese e catchup. Café da manhã, almoço e jantar. Comer, beber e dormir.
Prosa, poesia e crônica. Huguinho, Luizinho e Zezinho. Baixo, guitarra e bateria . Du, Edu e Dudu
Chuva, suor e cerveja. Sexo, drogas e rok’n’roll. Sanfona, triângulo e zabumba. Lindinha, Docinho e Florzinha. Luz, câmera e ação. Drible, passe e gol. Pau, pedra e fim do caminho. Eu, eu mesmo e Irene. Motorhead, Metálica e Megadeth.
stoN

23/03/2008

Foi mais um fatídico final de feriadão. Cansaço, preguiça e o velho desânimo do recomeço. Mil coisas lidas, textos corrigidos, arrumação em troços... Um montão de coisa ainda pra ler, pra corrigir, pra escrever, pra arrumar. Arre!!! Vidinha sem graça! “Eu nasci pra ter vida de malandro e vou levar rasgada!”

21/03/2008

Son Salvador
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O amor é filme

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Aguardei todos os créditos subirem. Logo vem alguém me tirar daqui. Tenho saudade de quando deixavam a gente ficar para a próxima sessão. Esse talvez seja um dos meus maiores problemas. Sempre quero mais. Não entendi detalhes do enredo, achei o mocinho com um caráter muito duvidoso, alguns enquadramentos e planos-sequência poderiam ser melhor trabalhados e acredito que a história ainda tem que continuar. Deve ser influência do Tarantino ou, o que é bem pior, do Ang Lee. É difícil acreditar no "The End" por mais garrafais que sejam as letras. Se pelo menos eu gostasse de pipoca...

20/03/2008

Confissão


E se os amores nunca forem ditos? E se nos furtarmos do vasto breu da confissão? Desejos mudos, necessidades inconfessáveis e vontades desmedidas esquecidos em cantos empoeirados ou rasgados em cestos de lixos. E-mails nunca enviados, carregando HD’s estéreis. Cartas, um dia perfumadas, hoje depositadas no túmulo frio do fundo de gaveta. E nem por isso deixam de reverberar. Nem o peito arfa menos, os olhos marejam menos ou o pensamento deixa de escapar da realidade...

Um pouco de Eugenio Recuenco*

*Fotógrafo de moda espanhol

18/03/2008

ruidosas urbanidades

O bar barulhento
Os motores do vai e vem
Saudade de qualquer cidade
Chuva que cai miúda
O moço bonito e cheiroso que espera o ônibus
Uma boa tarde de sábado
Para continuar tomando água tônica
Esperando um amor silencioso.

17/03/2008


Aeromoça

Pousou
Volte pros seus
Deixe os céus

16/03/2008

Lama: um conceito.

Acordar com duas garrafas de 51-ice (tangerina e maracujá) e um resto de ruffles sabor churrasco ao lado da cama...

15/03/2008

Causa real

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Laerte

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Puta que pariu!!! Como sempre, na manhã de sábado, é a primeira coisa que me vem à cabeça: puta que pariu. Ainda bem que tem sorvete de chocolate na geladeira. Só de pensar na delícia gelada, enquanto tomo banho, já me consola enormemente. Até perco o medo da dor de cabeça.
O corretor de texto do word não reconhece a palavra puta. Vou fazer um manifesto, uma campanha contra o puritanismo do meu corretor de texto. Ele tem que reconhecer! Que o ministério do trabalho reconheça a puta! Que todos reconheçam a puta!!! Sobretudo a que os pariu!

14/03/2008

Sincretismo

Condoleezza Assassina Rice com fitinha do Senhor do Bonfim no pulso, na roda de capoeira e elogiando a Bahia. É o imperialismo na sua versão pseudo-pagã no Globalitarismo. Que todos os santos nos socorram.

12/03/2008

Trinta anos

Quero ser homenino
E o indelével tempo me assola
Espero que ao menos ele me garanta
Uma digna velhice
Com ipês e muita cachaça boa
Se não tiver os ipês
Que não me falte a cana
Que já tenho trinta anos
E sem combustível
Não vive a alma
De ninguém de bom caráter

10/03/2008

"Erótica é a alma"

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Aos três

O acaso
De pé e de mão
Acaso de sim e de não
Acaz Simão

Amar mar e rio
Amar o Mário
Armário

Val de mar
Vão do ar
Mão de amar
Nome de rimar
stoN

09/03/2008




A ditadura dos óculos escuros


A Infraero ou a ANAC precisam urgentemente acabar com a ditadura dos óculos escuros que impera nos aeroportos. Nós da esquerda, sempre panfletariamente, costumamos classificar elite brasileira de “elite burra”, mas a pequena burguesia, além de burra, é ou se faz de cega. Toda vez que se chega a qualquer aeroporto todo mundo está de óculos escuros. E, pasmem, até quando faz sol.

Dia desses, voltando de SP, numa chuva tremenda que até impedia o pouso das aeronaves e me metia o maior cagaço de viajar, para onde se olhava via-se figuras atrás de verdadeiros pára-brisas negros. Como diria Titio Lobão: “É tudo pose”. Somos mesmo uns bichos do mato apegados a fetiches de pseudo status.

08/03/2008

Um pouco de Seal, de loucura e de sobrevivência...

But we're never gonna survive, unless...
We get a little crazy
No we're never gonna survive, unless...
We are a little...
Crazy...crazy...crazy...

07/03/2008

09

Nove idades
Novidades
Novas idades
No melhor estilo blog-diário tenho aproveitado os dias nos quais consigo me assentar na ida ao trabalho para escrever. Isso quando não tenho coisa do trampo pra ler. Vocês estão lendo um blog-metrô. Aposto que muitos já escreveram (não sem uma ponta de desdém) sobre as vantagens de não se ter carro próprio numa metrópole. Se bobear, até o Veríssimo já deve ter escrito.

Acabo de descobrir mais um argumento. É possível alimentar o blog durante a ida ao trabalho. É claro que isso pressupõe um trem vazio o suficiente para você ir assentado sem ser indelicado com a turma da terceira idade do vagão. Pensem na maravilha que será quando houver rede wi-fi gratuita nas linhas do metropolitano. O blog será atualizado on line full time (Essas expressões são tão dignas).

Não obstante as inúmeras vantagens de se ter veículo próprio, confesso que uma categoria mediana não me agrada muito. Gostaria de nunca ter tirado carteira de motorista e, ao fim da vida, poder justificar a ausência da CNH dizendo: “Antes eu era pobre demais pra ter carro. Agora sou rico demais para eu mesmo dirigir. James, para o escritório!!!”
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05/03/2008

E quando amanheceu para um dia de festa, já tinha passado, em muito, do tempo da colheita. Não compensava sair da cama mesmo. Preferi ficar com Nietzsche entre e além do bem e do mal. Esses caras que se metem a filosofar, devem ter noites e dias bem piores dos que eu tenho. Alguém com tanta loucura na cabeça deve passar horas insanas.

Essa noite não tive insônia nem pesadelo. Espero que o que isso não se deva às treze horas de exaustivo trabalho que tive ontem. Não é profilaxia que se apresente em inícios de milênios. A vida deve estar me reservando coisa melhor do que isso. Espero mais do que uma alma ensangüentada em Hanói. Todos nós merecemos mais do que isso.

E sempre tem o dia seguinte, que nos redime de quase tudo. A ressaca é o purgatório mais bem elaborado e eficiente que existe. Além de ter uma faceta produtiva interessante. Nada como uma ressaquinha para nos inspirar, nos fazer ler ou escrever um bom texto, nos oferecer um bom filme...

04/03/2008

As Verdades e as Meias

A tv não é só máquina de enlouquecer
Avó é mais do que mãe com açúcar
Nem tudo que a esquerda diz a direita discorda
Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Jornalistas que não mentem viram naves espaciais
Verdades quase nunca devem ser ditas
Deus disse: Nietzsche está morto
Uma missão de paz da ONU vai salvar o mundo com verdades e meias

As aventuras do homem sem pênis

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02/03/2008

Quando alguém me pergunta como vão as coisas, é Gessinger que me socorre: “na santa paz de Deus, no mais perfeito caos”. Também não reclamo. Já me habituei com essas coisas e acredito que a vida não será muito diferente disso nunca. E deve ser bom que seja assim. Sem rumo e com mil coisas malucas por um lado e uma sensação de que tudo está correto e do jeito que tem de ser do outro. Hoje não queria sair nem fazer nada, apenas descansar. Tive a grata alegria de dois amigos me ligarem, recusei os dois convites. É bom demais ter quem ligue, mesmo quando não se quer fazer nada. Um domingo inteiro colocando as coisas, o quarto e o computador em ordem. É disso que eu precisava. “Estou podando o meu jardim”.

Oriente-se, rapaz!

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01/03/2008

Matilda

Ontem foi mais uma noite extremamente agradável com gente animada, festiva e amiga. Estava precisando tanto de uma noitada dessas e ela me fez tão bem que nem a Regina Duarte na tv na hora do almoço conseguiu me estragar o humor. No final até Betina Botox por lá passou. Martinha do Bocaiúva virou Matilda, não teve bolinho de carne, mas terminei num delicioso macarrão. E se sempre falta algo, é que há que se querer mais. Essa incompletude que nos move é tão fundamental quanto o que nos é oferecido. E como nem só de dádivas se vive, sento-me para trabalhar nessa chuvosa tarde de sábado com renovado pique. Que venham os touros!