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05/11/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XV

De frente ao espelho, Maciel pensa no quanto está insatisfeito com o trabalho e com a acelerada calvície que o acomete. Busca uma tesoura na gaveta para aparar os pelos que lhe sobram no ouvido. Nosso herói tem saudade de Alice, de Marta e do cachorro idiota. Como era mesmo o nome dele? Desiste do esforço de tentar se lembrar.
Ganhou a rua e depois de comer um pastel na esquina segue para o shopping. Daniel já deve estar esperando. O cara tem sido um bom companheiro e eles já ficaram algumas vezes. O beijo é sempre melhor, ponderou Maciel descendo do ônibus. Agora que comprou um forno de micro ondas, o intrépido arquiteto se sente um grande “Chef” e pretende fazer um agrado a Daniel com uma lasanha congelada.
Definitivamente, Maciel precisa mudar de vida.
'
FIM
stoN

02/11/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XIV

Já faz duas horas que Maciel perambula pela cidade. Pensa em trocar de emprego que já que o novo está tão ruim quanto trabalhar no escritório de Suzane. Saindo de um bar onde parou para um pastel, encontra-se com Daniel, um velho amigo da faculdade. Depois de milhões de recordações do curso e da festa de formatura, muitas delas impublicáveis, resolvem tomar uma cerveja.
_ Você ainda tem aquela jaqueta de couro marrom? Pergunta Daniel.
_ Uso pouco agora.
_ Menos mal. Aquilo tava um lixo na época da faculdade.
Maciel fica preocupado. Daniel não é a primeira pessoa a criticar seu estilo.
Enquanto a conversa segue animada, assistem a um assalto na esquina. Maciel se assusta muito e pensa que precisa mudar de vida. Seria bom morar numa cidade menor e mais tranqüila.
Combina com Daniel de saírem no fim de semana. Maciel não atende ao telefonema do amigo quando ele liga na sexta. Ele desconfia que o moço esteja a fim de algo mais e Maciel não quer ter nada com homem agora.
stoN

30/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XIII

É sexta feira, dia de pagamento e Maciel pensa em se divertir um pouco. Não quer ir ao mexicano. Talvez ele procure algo mais dançante e com gente interessante. A solteirice já o incomoda. Sabe-se namorador, tem que ter alguém pra dividir as coisas, só assim se sente bem, mesmo que seja dividir as toalhas limpas. Pensa que precisa mudar de vida e que tem muita louça suja pra lavar quando voltar pra casa. E se ele não saísse e passasse uma inusitada noite de sexta fazendo uma, mais inusitada ainda, faxina na casa? Deve ser bom ser surpreendente e inusitado. As mulheres devem gostar de caras assim.
No fim de noite, sentado tradicionalmente no cantinho esquerdo do balcão, Maciel se despede de Augusto, o cara que serve bebidas no balcão do mexicano. Nem inusitado, nem inovador. Maciel é tradicional demais pra essas coisas.
stoN

24/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XII

Maciel recebe uma carta de Marta dizendo que está morando no interior de São Paulo e Alice é sua vizinha. Ele fica excitado de pensar as coisas que elas devem estar fazendo juntas. Já passaram dois meses que a briga do cachorro culminou no rompimento. Foi tanta discussão que Maciel ponderou que Alice, com o bilhete, foi, na verdade, muito sensata.
O trabalho está razoável acostumou-se com todas as estranhezas. Na realidade Maciel anda tão estranho quanto todos de lá. Estranheza pega. Sobe disso quando se pegou tomando café com a alça da xícara virada para o queixo, da mesma forma que a loira da recepção sempre faz.
Provavelmente por saudosismo, Maciel agora é freguês assíduo do bar mexicano e teme chegar o tempo em que não queira mudar de vida.
stoN

22/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

XI

Marta entra nervosa no quarto enquanto Maciel, distraidamente, fuma uma cigarrilha indiana, sabor cravo, que sua amiga Luana trouxe de Londres. A aparente calma do moço a deixa mais nervosa ainda.
_ Você deixou Asdrubal fugir de propósito.
_ Claro que não, meu amor!
As palavras de Maciel parecem a fumaça. Na verdade ele demorou alguns segundos para se lembrar que era esse o nome do cachorro. Como ele poderia saber que aquele cachorro besta fugiria?
Marta fala muitas coisas e Maciel não consegue acompanhar metade delas. Ele nunca a vira tão brava e, muito provavelmente por isso, tão linda. Ele, distraidamente segue pensando num monte de coisas sem importância enquanto ela esbraveja e tenta adivinhar que tipo de substância tem no cigarro, pois Maciel está mais lerdo do que de costume. Isso a irrita mais ainda.
_ O dia em que eu te dei eu vi que não tinha gostado do coitadinho...
stoN

20/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

X

Quando já pensava em vender a máquina de lavar, Maciel conseguiu emprego como trainee numa grande empresa de engenharia e arquitetura. Tudo é novidade e tudo é um saco. Até o cafezinho parece estranhamente diferente. Independente de qualquer coisa, ele precisa garantir o salário no fim do mês, então melhor não ligar para as estranhezas.
Alice cumpriu o que disse no bilhete: não voltou mais. Nem mesmo pra mais uma trepada a três. Já são três meses de namoro e Marta já fala em casamento. Impressionante como mesmo as mais decididas e bem resolvidas tem esse problema. Maciel achava que isso só acontecia com as frágeis e carentes. Doce ilusão. Maciel precisa mudar de vida.
Ston

16/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

IX


Marta e Alice são amigas de infância foi a descoberta triunfal ocorrida num copo sujo num fim de noite. Maciel e Marta, após passarem o dia inteiro procurando infrutiferamente o cachorro que fugira, foram pro bar e lá deram de cara com Alice. Esticaram a noite. Maciel gostou de fazer sexo com as duas ao mesmo tempo. Sentiu-se grato às duas. Alice, com ressaca física e moral, foge de manhã antes dos dois acordarem.
Maciel acorda e sabe que tudo vai acabar: agora nem Alice nem Marta. Pensa na solidão, na falta de emprego e nas coisas chatas da vida. Deveria ter economizado o dinheiro da máquina de lavar pra não se preocupar tanto com grana enquanto não consegue trabalho.
Pensa que assim que Marta sumir, o que deve acontecer tão logo ela acorde, ele vai alugar um lugar mais barato, talvez uma quitinete. Marta acorda e eles fazem um sexo violento. Pela primeira vez ela o concede o controle da coisa toda. Foi a melhor trepada que tiveram. Alice poderia ter pelo menos assistido, pensa Maciel.
STon

14/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VIII

É aniversário de Maciel e ele resolveu comemorar com estilo. Tem um mês que está saindo com Marta e ela o presenteia com um filhote vira latas. O moço não conseguiu disfarçar o descontentamento com o presente. Trepa com Marta e sente saudade do jeito como Alice conduzia a transa. Está na hora de mudar de vida. Não sabe se é pela trepada ou pelo cachorro. Ainda não tem emprego. Cansou de buscar em escritórios de arquitetura e urbanismo. Talvez Suzane a as outras víboras tivessem razão: a única coisa com a qual saiba lidar seja realmente uma garrafa de vódica. Vai procurar um escritório só de arquitetura.
_ Onde tem uma toalha?
Pelo menos dessa vez ele tem toalhas limpas e secas além de uma máquina de lavar tinindo e um cachorro besta!
Ston

08/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VII

Era uma estranha manhã de chuva fina. Tão desconcertante quanto uma manhã chuvosa pode ser. Na fila do Seguro Desemprego, atrás de uma senhora prodigiosamente gorda e com uma blusa roxa, estava Marta. Morena linda, voluptuosa, farta, repleta de salutares curvas.
Ela oferece a Maciel um pedaço de chocolate, talvez por ter percebido no olhar dele mais fome do que desejo. Ele, mais desconcertado do que de costume, sentia vergonha da camiseta surrada que usava. Combinam de sair pra um mojito num bar mexicano. Ele sabia que isso não daria em nada. Como algo realmente consistente pode começar na fila com chocolate, fila de Seguro Desemprego e mojito num barulhento bar que obriga os garçons a usarem sombreiros? Seriam apenas dois desempregados numa noite suja.
Marta é decidida e possui o discreto charme da burguesia, consegue controlar tudo e todos sem parecer arrogante ou antipática. Maciel gosta disso, ele nasceu pra obedecer.
Ston

06/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VII

Feliz com seu MP3 o moço se dá um tempo de férias. Tempo suficiente para ajeitar algumas coisas em sua casa. Comprou finalmente uma máquina de lavar nova, o que facilitou um pouco as coisas. Pena que Alice não pode sentir a maciez das toalhas agora.
Maciel está contente por poder ir ao cinema no meio da tarde num dia de semana. É coisa muito boa. Ir ao cinema e estar feliz são coisas muito boas. E ainda tem o bar do Euclides que o traz uma paz nunca antes experimentada.
Depois de duas semanas bate uma saudade assustadora de Alice. Maciel precisa mudar de vida.
Ston

04/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

VI

Passadas duas semanas do baile de formatura e Maciel ainda não se lembrava de muita coisa que havia acontecido. Era frustrante demais perceber que além de não ter que ir à aula todos os dias, nada havia mudado consideravelmente em sua vida como ele esperava.
Pensava isso até encontrar um bilhete que Alice havia deixado em baixo da porta:
“Nunca mais volto”.
Era isso? É assim que se terminam os relacionamentos? Vai saber.
No dia seguinte Maciel criou coragem e pediu demissão do Escritório de Arquitetura e Urbanismo. Suzane, por pura compaixão, o demite.
Ston

01/10/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

V

No dia seguinte ao baile de formatura Maciel está igual a um pinto na merda. A festa foi boa demais, há felicidade demais, foi bebedeira demais. Ele está livre demais da faculdade de merda, da rotina de merda, do macarrão de merda do Sr. Edson... Mesmo acordando no banco traseiro do carro de um amigo, é felicidade demais. Não sabe do amigo. Pra dizer a verdade, Maciel se esforça para se lembrar de quem é esse carro, quem é esse amigo. Confusão demais. A ressaca monumental é da ordem do insuportável.
Chega em casa passando por uma verdeira maratona no transporte público. Depois de um sono revigorante, ou perto disso, ele passa o dia todo em casa ouvindo Bach e tomando suco de abacaxi. Às vezes parece que tudo na vida de Maciel é demais. Totalmente demais...
Ston

28/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

IV

_ Suas dores nas costas diminuíram? Alice pergunta solicita.
_ Um pouco. Tenho vontade de tomar mais uma. Anima?
_ Nem pensar, Maciel! Amanhã acordo muito cedo.
Ela parece buscar algo que não encontra na desordem do quarto.
­_ Quer o quê?
_ Acho que perdi meu brinco azul. Gosto tanto dele...
Maciel pensa em tudo que é azul e que pode ser gostado nesse mundo: o mar, o céu, pedras de anil, arara, os olhos de Sinatra...
Depois que Alice sai, ele vai pro computador e lê um e-mail de uma antiga namorada. Ela diz que ele foi a melhor trepada da vida dela. Maciel pensa que ela deve estar sozinha demais ou que só arrumou caras babacas desde que se separou dele. Saiu de casa pensando ainda nas coisas azuis boas de serem gostadas e foi comprar um cd do Ramones.
Ston

25/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

III

Assim que Alice foi embora, depois de mais uma trepada, mais um cigarro e mais um desejo de mudança, Maciel voltou sua atenção para o trabalho de planejamento urbano. Precisa terminar logo esse curso de arquitetura e provar pra todo mundo que uma garrafa de vódica não é a única coisa que ele consegue terminar sem a ajuda de ninguém. Quem sabe com o diploma na mão ele consegue um trabalho nos concorrentes do escritório de Suzane? Pra se vingar dela e das outras todas. Teme já estar ficando persecutório com essa coisa toda. Tudo é foda demais. Tem que se concentrar nos estudos, já está no último período.
Dorme sobre o livro e acorda de madrugada com uma enorme dor nas costas e com uma fome de anteontem. Ainda dá tempo de pensar novamente em mudar de vida antes de pegar no sono de novo, dessa vez no lençol quentinho que ainda tem o cheiro de Alice.
Sonha que está dirigindo um conversível, ouvindo Raulzito e com a Cyndi Lauper completamente descabelada no banco do passageiro. Ele colocava o som no talo, com medo de que ela começasse a cantar. Precisa mesmo mudar de vida.
Ston

22/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

II

Quando Alice foi se lavar, Maciel ligou a tv descompromissadamente, bem sabe que àquela hora da manhã não teria nada interessante pra se ver nos canais abertos. Pensou nos idiotas que dizem que dinheiro não traz felicidade. Pelo menos tv à cabo pode pagar o que, mesmo não sendo a felicidade em si, já é um passo pra longe da tristeza. Sempre pensava em mudar de vida depois de trepar ou depois de ser esculachado por aquela mulherada neurótica do escritório. Acredita que depois de um soco no olho ou de uma facada num rim deve-se pensar o mesmo, mas aí já é tarde demais. Sempre parece que é tarde ou cedo demais pras coisas. Deus deve usar o tempo pra brincar com os desejos dos mortais.
_ Onde tem toalha limpa?
A voz aveludada de Alice o desperta dos devaneios. Precisa comprar uma máquina de lavar nova. Tem preguiça de lavar roupa com tanta bagunça que a antiga faz. Se não tiver uma toalha limpa e seca a menina vai chiar e ele vai ter mais vontade de mudar de vida. Ou de trepar de novo. Meninas bravas e molhadas são ótima inspiração pra Maciel.
Ston

21/09/2008

Maciel Antero da Cruz Neto

I

Maciel estava cansado de ser humilhado por tanta gente. As “meninas” do trabalho eram as piores, melhor dizendo, eram as melhores, as mais eficientes no intento diário de mostrar a ele que não merecia estar onde estava, que por méritos próprios jamais chegaria ao cargo de auxiliar de projetos (com relevantes atribuições de contínuo e estagiário) em um famoso escritório de arquitetura e urbanismo. Ainda se fosse só um escritório de arquitetura tudo bem, mas era também de urbanismo, o que só fazia reforçar a incompetência e o desmerecimento do rapaz. Resolveu procurar Suzane, sua presunçosa e arrogante chefe para discutir sua demissão. Gostaria, se fosse possível ser demito, não queria perder os direitos trabalhistas que era o que iria garantir minimamente sua sobrevivência até conseguir outro emprego. Talvez até comprasse um mp3 com o dinheiro do seguro desemprego. Estava querendo um desde muito.
A conversa foi pior do que esperava. A carrasca disse que, uma vez que ele queria sair do emprego, que se demitisse. Emputecido, saiu do trabalho direto pro bar do Euclides. Precisava muito de um pouco de conversa fiada pra esquecer as mazelas de sua medíocre e prosaica existência.
Ston