06/12/2007

Espeliotemas

Tomo Primeiro
I

Fabiano conferiu pela última vez se tinha trancado todas as portas e janelas. Não poderia perder o metrô das 07:20 se queria chegar a tempo no trabalho. O melhor de morar sozinho é que tudo que você deixou de manhã está no mesmo lugar quando volta. O pior também. Ganhou a rua e passou rapidamente pelo segurança da estação. Seu apartamento não ficava longe dela. O dia morno e iluminado o fez pensar que poderia fazer um monte de coisas boas para aproveitá-lo em vez de dedicar quase dez horas ao enfadonho trabalho de atender no balcão de uma farmácia. O alento do moço era ser sexta-feira e estar de férias na faculdade. Sexta é o dia da tradicional saída com possibilidade de esticar em algum lugar com música legal. Importava pouco o fato dele acordar no sábado, perto do meio dia, como se tivesse passado a noite no intestino de um camelo. Fabiano já chegava perto do profissionalismo no uso de substâncias que alteram o estado de consciência. Fato é, que já não eram poucas as vezes em que prestava consultoria aos amigos sobre os melhores fornecedores, a dosagem ideal e os efeitos colaterais.

09:15. Aspirina; tarja preta; curativo; absorvente; troca de escova de dentes; acabou a ração pra filhotes; telefonema pra fornecedor. 10:45. Dor nas costas; quero com abas; aas adulto; Fluoxetina; Dramim, cartão telefônico; desodorante creme sem cheiro. 12:00. Dois pasteis de camarão e um refresco de pêssego; cigarro de palha picado; chiclete de caixinha. 13:05. Esporro pelo atraso; mais remédios, mais tarjas, sem abas, genéricos e afins... Fabiano só pensa em chegar à liberdade vespertina e no e-mail que recebeu de Afonso. O cara é seu amigo de infância e tem três meses que vive na Espanha. Poucos telefonemas e a internete mantêm os dois em contato. Sempre Afonso estimula nosso herói a largar tudo e partir para o Velho Continente. Fabiano, já faz tempo, vem considerando a idéia. Ainda mais sendo “tudo” tão pouco. O que o deixa em dúvida é abandonar o curso de administração no quinto período. Outra verdade é que ele não é de se arriscar muito. O rapaz sempre foi comedido quando se trata de atitudes que alteram significativamente o rumo das coisas. Sua amiga Bete diz que isso tem relação com o signo.

Finalmente termina o dia e Fabiano passa em casa para tomar um banho antes de ir para o Gárgula. Bar de música questionável, comida suspeita, mas com preços baixos e com presenças interessantes todas as noites. Estava de novo no metrô, rumo ao bar, quando recebe o telefonema de Alencar, amigo que ele não vê desde muito.

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