24/12/2007

Espeliotemas

Tomo Segundo
II


Uma forte dor no estômago. Fome, uma intensa fome. Preciso acordar. Há sons distantes e indefiníveis. Sensação horrível. Devo estar morto. É isso, eu morri. A morte não é pior do que a ressaca. É, realmente, algo melhor. Uma certeza: melhor morrer no dia seguinte do que passar pela ressaca. Agora Fabiano está acordando de verdade. Há um cheiro estranho. Está numa cama. Estou num hospital? Onde está meu celular? Minha mãe deve ter cortado o cabelo repicado de novo. Sempre que ela faz isso, coisas estranhas me acontecem... Enquanto nosso herói passa por tais devaneios é fim de tarde. No hospital municipal onde está o movimento é grande. Final de semana agitado.

Entra no quarto uma enfermeira. Fabiano tenta falar com ela e não consegue. Os pensamentos confusos. Deve estar voltando de um processo de sedação. A mulher, com uma estranha cara de tarada gesticula e anda pelo quarto como se fosse uma comissária de bordo de um avião que atravessa o Atlântico, com toda a pompa e circunstancia devidas. Ela percebe que Fabiano se agita: “Fique calmo rapaz. Você está bem agora. Você está acordando, o processo é lento”. Obedeça o sinal de não fumar e manter os cintos atados. Em breve começaremos o serviço de bordo, faltou acrescentar.

Não se consegue ver nada pela janela do quarto, é uma janela que dá para o lado interno do complexo hospitalar. Ele vê outras janelas. Janelas que se vêem. Alguém grita insistentemente. Parece sentir muita dor. Ainda bem que consigo suportar as minhas sem gritar. Talvez devesse gritar um pouco. E se eu não conseguir? Será que estou em coma? Melhor não tentar. Essa mulher pode me atacar com um suporte de soro. Onde está a porra do meu celular?

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa história, como muita coisa nessa vida, parece que não vai ter fim.

Anônimo disse...

Camarada Pedro,
Evoé!!!
Tenha pressa não. Dia desses, quem sabe esse troço tenha fim...